Opinião de Adelina Piloto

O regime político ditatorial instituído por Salazar, parecia correr sem sobressaltos nas vésperas da Revolução, mas na realidade, o país assistia desorientado e mal informado à justaposição de problemas políticos, sociais e económicos, mas nenhum deles por si só seria suficiente para derrubar o regime autoritário que vigorava havia 48 anos. Foi preciso a conjugação de todos esses fatores e de um detonador: a guerra colonial e as suas graves consequências, que levaram a despontar nos militares, particularmente nos oficiais, que a solução para a guerra colonial só podia ser política. Mas o Movimento dos Capitães na sua génese foi corporativista, de defesa dos seus interesses de carreira: Marcelo Caetano para responder à falta de oficiais, aprovou 2 decretos, que promovia os milicianos a capitães numa formação de apenas dois semestres. A contestação dos capitães fez com que os mesmos decretos fossem revogados, mas a semente do descontentamento e da revolta entre os oficiais do exército português floresceu e, a partir de então, os acontecimentos precipitaram-se: em setembro de 1973, Vítor Alves, Vasco Lourenço e Otelo foram mandatários da Comissão Coordenadora para planearem um golpe militar para pôr termo ao regime; a 5.03.1974 é aprovado o Manifesto dos Capitães, que defendia o fim da guerra colonial, o desmantelamento do regime, a implantação de uma democracia tipo ocidental e o prestígio das Forças Armadas; a 14.03.1974, Costa Gomes e Spínola foram exonerados e, dois dias depois, acontece o Golpe Militar das Caldas, tentativa frustrada, que convenceu Marcelo que os capitães não tinham força, aproveitando estes o mesmo contexto para refletirem sobre o que correu mal e planificarem cuidadosamente a Revolta triunfante a 25 de Abril de 1974.

 

Publicado no jornal a 6 de março. Outras opiniões: Gualter Sarmento, João Paulo Meneses, Abel Maia e Sara Padre. Na atual edição em papel: R. Cunha Reis, Pedro Pereira da Silva, João Paulo Meneses, Carlos Real e Miguel Torres.

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