Com o afastamento de Vasco Gonçalves e o fim do V Governo Provisório, o mais progressista do período revolucionário, o País testemunhou uma ofensiva contra os direitos conquistados desde Abril. Essa investida verificou-se a nível institucional, mas também no recurso à violência pelos sectores mais trauliteiros da Direita e Extrema-Direita portuguesas.

Frank Carlucci, Embaixador dos EUA em Portugal e posteriormente director da CIA, conspirava com os sectores nacionais mais retrógrados que, associados em torno de organizações terroristas como o ELP e o MDLP, atentavam contra a nossa jovem democracia. Foram inúmeras as sedes do PCP e MDP/CDE assaltadas, vandalizadas e incendiadas. Incontáveis os atentados bombistas visando militantes de Esquerda e seus bens. Por cá foram alvos dessa fúria o automóvel de uma professora e o Café Nacional que, na época, era frequentado maioritariamente por comunistas. Chamaram-lhe Verão Quente.

Simultaneamente, a falta de compreensão de Morais Silva, CEMFA, pelas justas reivindicações dos militares paraquedistas despedidos em Outubro de 1975 provocou uma rebelião que caiu como sopa no mel para as forças mais conservadoras que, já estando a preparar há muito um golpe militar e beneficiando de uma correlação de forças favorável, dominaram-na e assim justificaram a reviravolta que sempre ambicionaram. Era o dia 25 de Novembro de 1975.

Saudosos do passado, quem nunca sentiu Abril enaltece Novembro mas não comemora a vitória sobre as intentonas reaccionárias de 28 de Setembro ou 11 de Março. Não festejam a apregoada consolidação da Democracia, mas o que daí resultou. Celebram o travão e a marcha-atrás na Revolução, a progressiva perda de poder de compra, a devolução da Banca, Seguradoras e latifúndios aos privilegiados de outrora, a galopante desigualdade social, a perda de direitos laborais, o desprezo pela Arte e Cultura e as investidas neo-liberais contra a Educação e a Saúde Pública. Para além da absolvição dos criminosos do Verão Quente.

Celeste Caeiro viveu o suficiente para aplaudir o cinquentenário do Dia da Liberdade, mas a morte poupou-a aos festejos do quadragésimo nono aniversário do dia em que pretenderam enterrar os seus cravos. Novembro é o inverno na Primavera de Abril.

Publicado na última edição em papel. Outras opiniões: Elizabeth Real de Oliveira, Adelina Piloto, João Paulo Meneses, Abel Maia e Carolina Vilano. Pode ver outros assuntos do seu jornal aqui

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