O Muro de Berlim foi um símbolo da chamada Guerra Fria. A construção propriamente dita e o que mais lá se encontrava – arame farpado, torres de vigilância e postos de controlo. Durante quase 30 anos e ao longo de 44 quilómetros, esta edificação não só dividiu a cidade alemã em duas como assumiu claramente a existência de dois blocos político-militares.
As reformas lideradas por Mikhail Gorbachev conduziram à desagregação da União Soviética e consequente desarticulação do Bloco de Leste. O derrube do Muro em 1989 e o fim do Pacto de Varsóvia em 1991 foram duas das etapas mais mediáticas desse processo. Pelo meio, em 1990, e como consequência directa da primeira, surgiu a reunificação da Alemanha, dividida em zonas de influência desde 1945 após derrota na Segunda Guerra Mundial.
Caiu o Muro, ergueu-se a ilusão. Fizeram-nos acreditar que a ameaça de guerra tinha acabado. Apontaram-nos um Mundo de Igualdade e Liberdade. De Fraternidade e de Solidariedade. De Justiça e de Paz. De Progresso e de Distribuição de Riqueza. Um Mundo de sonhos em que nós acreditamos. Como os sequiosos no deserto acreditam na miragem de água. Tudo mentira.
O Mundo permanece dividido. Mais do que nunca. E agora nem sequer vemos o muro que nos garante quem está de um e de outro lado. Mas eles existem e estão por toda a parte. São invisíveis e manhosos. Não assumem a sua existência, como o outro fazia. E nisso era mais honesto.
Sabemos que o Poder Económico determina o Poder Político. Mas o Muro de Berlim simbolizava dois mundos, que sendo divididos por ideais políticos acabavam por amortecer os avanços do poderio financeiro. Actualmente, é impossível conter o capitalismo. Está desenfreado. É uma besta capaz de todas as atrocidades na procura da acumulação de riqueza. Domina os meios de informação. Deturpa a verdade lançando a notícia que mais lhe convém para nos convencer de que o que vemos não é a realidade. No Mundo, no País e na nossa terra.
Há muros no direito à Paz. Nos direitos da Criança. Nos direitos das Mulheres. No direito ao Amor. Nos direitos do Trabalho. No direito à Educação. No direito à Habitação. No direito à Saúde. No direito a ser feliz. Há tantos, tantos muros.
O Muro de Berlim caiu. Quantos outros muros se levantaram?
Publicado no jornal (edição em papel) a de outubro. Outras opiniões: Elizabeth Real de Oliveira, Adelina Piloto, João Paulo Meneses, Abel Maia e Carolina Vilano.

