Este é um extrato da entrevista publicada na última edição do Jornal Terras do Ave
O Intendente Ezequiel Rodrigues comanda a Divisão de Vila do Conde da Polícia de Segurança Pública e tem sob o seu comando três esquadras: a vilacondense, claro, mas também a da Póvoa de Varzim e a de Santo Tirso. Está no cargo desde 7 de julho de 2021 e ainda não sabe se vai continuar, mas aceitou o desafio do Terras do Ave para, em entrevista, abordar a situação policial local, da PSP entenda-se. São respostas contidas, percebe-se, mas com algumas revelações de relevo.
Como é constituída a estrutura que comanda?
A designação certa é Divisão Policial de Vila do Conde e é uma das divisões territoriais do Comando Metropolitano da PSP do Porto. É constituída por três esquadras complexas, de Vila do Conde, da Póvoa de Varzim e de Santo Tirso. E depois existem ainda mais duas esquadras de competências específicas: a do Trânsito e a de Intervenção e Fiscalização Policial.
E a Esquadra de Investigação Criminal?
Não está no âmbito desta divisão. A 8ª Esquadra de Investigação Criminal depende hierarquicamente da Divisão de Investigação Criminal do Comando Metropolitano do Porto, mas temos contactos e atuamos conjuntamente.
E quantos elementos tem sob o seu comando?
Em termos genéricos esta divisão tem cerca de 180 polícias. Mas isto é um dado meramente referencial porque, constantemente, recebemos reforços do Comando, de outras Divisões e até da Lisboa, se for necessário. O efetivo não é algo estanque.
(…)
No calendário, o verão ainda prossegue, mas o pico da afluência de visitantes já terá passado. Já é possível fazer um balanço?
Não fugiu à realidade de anos anteriores. Esta altura do verão, como todas as outras, é preparada com antecedência e muito dificilmente seriamos surpreendidos pelas ocorrências. Esteve dentro daquilo que eu esperava.
O maior problema é, parece, o trânsito…
Sabemos que há um volume muito elevado de pessoas a procurar esta zona e isso pode sempre afetar a circulação automóvel. Julgo que o mais importante é que, acima de tudo, as pessoas sejam razoáveis e que respeitem o Código da Estrada.
Recentemente a Igreja Matriz foi alvo de assaltos consecutivos e ficou a ideia de que se tratou de algo organizado, uma exceção ao crime habitual. O que nos pode dizer sobre isso?
Não posso especular se foi algo organizado e não posso confirmá-lo sequer. Não devo falar de casos concretos. A perceção que temos é que, de facto, aquilo foi uma ação pontual. O que tentamos fazer depois, como sempre, é apurar o que eventualmente poderíamos ter feito para evitar a ocorrência desses crimes.
Mas foi algo que fugiu ao modo habitual dos furtos…
Qualquer crime que acontece, que interfere e prejudica a vida das pessoas, causa transtorno e um eventual sentimento de insegurança. Mas, sem retirar valor a esse sentimento das pessoas, que respeitamos muito, e sem prejuízo dos crimes que ocorrem e que são um facto, esta área da Divisão Policial de Vila do Conde é muito segura comparativamente com outros locais.
A nível da Área Metropolitana do Porto?
Sem menorizar os crimes que vão acontecendo no dia-a-dia, são poucos os com mais impacto e graves. E também sem pôr em causa a existência de serenidade social noutros concelhos do distrito do Porto, posso afirmar perentoriamente que estes três [Vila do Conde, Póvoa e Santo Tirso] são dos mais seguros na jurisdição da PSP.
Acha que as pessoas têm essa noção? Não é o que se lê, por exemplo, nas redes sociais onde por há queixas de uma criminalidade generalizada.
Essa ideia não corresponde à realidade (…) e como imaginará, recebo relatórios internos diários da criminalidade que ocorre nestes concelhos e nos demais. Logo não é uma ideia empírica sequer, é factual. Por hábito de ofício, temos a tendência para analisar estas coisas da criminalidade dizendo: onde é que eu gostaria de viver? E olhando só ao fator segurança ou insegurança, não tenho problemas em dizer: estes seriam os locais de eleição para residir, precisamente porque há segurança.
(…)
Estamos a realizar esta entrevista em instalações antigas e pequenas, mas há novas e amplas a ser construídas também em Vila do Conde. Vão aumentar a operacionalidade?
O nível de operacionalidade não é influenciado pelas instalações que temos. A principal vantagem das instalações novas, mais modernas, feitas à medida para a vida policial, será o maior conforto para os polícias e para os cidadãos que a elas vão recorrer.
Mas trabalhar num local com melhores condições deve motivar mais…
Se pessoas se sentirem bem será melhor para nós, naturalmente. Mas o efeito, o cuidado e a motivação com que atuamos são já hoje intrínsecas à ação da PSP. Não diria que neste momento não fazemos um bom serviço, e depois vamos fazer um bom serviço. Não haverá nenhum “milagre da operacionalidade” quando passarmos para as novas instalações.
Em termos de imagem da instituição será diferente…
Sim, claro, serão instalações modernas e vistosas, concebidas de raiz. Adequadas ao cânone de modernidade da PSP.
O comandante está cá há três anos, ou seja, o tempo que costuma durar uma comissão. Vai continuar no cargo?
Ainda não sei. A comissão base é de três anos, mas pode ser prorrogada. Não há uma dimensão constante, inalterável. Estou preparado para ficar mais tempo ou ir embora.
A mala sempre feita…
Sim, a mala sempre à porta e sem ressentimentos. Faz parte, nomeadamente na carreira de oficiais.
Mas sente-se bem nos concelhos na Divisão?
Eu gosto de estar aqui. Quando fui colocado, foi um momento de descoberta, mas rapidamente gostei daquilo que encontrei. Dos desafios, do ambiente, das pessoas, das entidades, da forma aberta como os problemas são discutidos…enfim, se tiver de acontecer a continuidade, acontecerá. Tenho muitas coisas ainda para fazer e continuo absolutamente motivado para dar o meu melhor.
As entidades locais colaboram consigo?
Muito. E particularmente os seus presidentes da Câmara. A porta deles está sempre aberta e minha também, temos uma colaboração, que eu diria, excelente a todos os níveis. Também faço questão de contactar com as restantes entidades locais e tenho gosto em estar presente nas suas cerimónias.
E com a GNR a relação é de cooperação ou rivalidade?
De colaboração absoluta e com a Polícia Marítima também. Temos uma relação institucional e eventualmente até pessoal, próxima. Quando nós precisamos ou quando eles precisam estamos sempre disponíveis uns para os outros, como não poderia deixar de ser.
E com as pessoas em geral, está agradado?
Absolutamente. Genericamente são pessoas espontâneas e muito abertas. Sou natural de uma terra [Ponte de Lima] em que as pessoas são também um pouco assim, francas e genuínas e acho muito bem.
(…)
Se a entrevista fosse um livro, a seguinte parte teria de constar de uma edição distinta porque Ezequiel Rodrigues não gosta de misturar a imagem da sua profissão com a situação pessoal. Só com algum custo e invocando o interesse dos nossos leitores em o conhecerem é que o Terras do Ave conseguiu entrar um pouquinho nesse registo mais íntimo. Deve-se, pois, considerar que o entrevistado nesta altura já não tem envergada a farda
Num registo mais pessoal, ser polícia foi um sonho de menino?
O meu projeto de adolescente era seguir medicina, mas as notas não deram para isso e quando terminei o secundário quis ser oficial da Marinha portuguesa. Fui para a Escola Naval, mas a minha matemática não era suficiente e desisti. No mesmo ano concorri para a Escola Superior de Polícia e estou extremamente contente por o ter feito, sinto-me muito realizado.
E ainda está ligado a essa escola?
Sim, no Instituto de Ciências Policiais e Segurança Interna. Colaboro na formação dos oficiais e mesmo de civis que fazem lá outros cursos. Faço orientações de tese, arguição, presidências e investigação.
Mas dá aulas?
Neste momento não, mas sou docente integrado e, se houver necessidade, terei todo o gosto em colaborar com o Instituto novamente.
E como é que surge a escrita?
Eu sempre tive essa ideia. Desde adolescente, quando lia o Eça [de Queirós], o [Almeida]Garrett e outros. Escrever foi sempre um projeto. As coisas foram amadurecendo e quando entendi que estava preparado avancei.
O livro “Ódios de Fronteira” é a sua primeira obra?
Já tinha publicado artigos científicos e de investigação Científica e outras coisas. O livro é, sim, o meu primeiro romance.
Qualquer dia escreve um livro sobre esta vivência mais marítima…
Pois, nunca se sabe. Nunca se sabe. Isto são terras que inspiram e não estou a dizer isto só para ser simpático. Primeiro o mar é inspirador, mas também o ambiente calmo e depois são terras de escritores e sente-se esse ambiente.
Mas já há algo na forja?
Sim. Talvez no próximo ano haja novidades.

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