A maior democracia do planeta procura resistir ao poder da demagogia trumpista. Oxalá, Kamala o consiga. Sempre é melhor do que quando alguns imitam eleições para dizerem que têm democracias, porque não conseguem fazer como os chineses, que só têm uma regra: – Bater palmas em uníssimo ritmo estridente, para eleger o grande líder. Os russos e amigos chegados, imitando os chineses, aplaudiram Maduro, onde se revêm, no que parece fácil: controlo da comissão eleitoral, dos cadernos eleitorais e do voto. Deu confusão. Tempos difíceis. Alguém vai pagar.
Com o mundo às avessas a viver tempos difíceis vai parecendo que Portugal vive em nuvem celeste e farta. Não há tempos difíceis. É tempo de dar. Dar, quase tudo a todos. Dar, porque se pensa que se pode, e por isso, dá-se! Dar, porque é justo! Dar, porque o barulho que alguns podem fazer acorda fantasmas passistas, do tempo dos cortes, em que os portugueses eram apenas gastadores…e lamechas. Dar, porque qualquer dia há eleições e em Portugal são a sério e sérias. Dar, porque o Costa não quis dar. Dar, porque o orçamento é o mote. Criam-se os instrumentos para o concurso das boas dações. Todos a ficar com sorriso e com a fronte no centro da fotografia. Alguém vai pagar.
Localmente é um pouco o mesmo. Dar: Festas, almoços, jantares, espetáculos às dúzias, porque é mas caro, indemnizações, e comprar terrenos caros. Há fotografias às dezenas a dar, onde só se vê o branco dos dentes, pratos, foguetes e palcos. Oposição atónita e sedada, poder em roda solta. Também irão acontecer eleições autárquicas dentro de algum tempo, sérias, onde não é possível arranjar uns eleitores de última hora, pagando-lhes a cota – prática em voga cá no burgo. As respostas sociais são poucas. A cidade menos cuidada. O aumento da divida é pormenor. A propaganda é o que importa. Há que dar. Alguém vai pagar.
Publicado no jornal (edição em papel) a 4 de setembro. Outras opiniões: Elizabeth Real de Oliveira, Adelina Piloto, João Paulo Meneses, Gualter Sarmento e Fátima Augusto.

