A Irlanda e a Inglaterra tem uma história marcada por conflitos e repressão e tudo começou em 1169 quando a ilha da Irlanda foi divida pelos Normandos, passando depois à soberania do rei Henrique II de Inglaterra. No século XVI, depois da adoção do protestantismo anglicano na Inglaterra, esta derrotou as rebeliões católicas da Irlanda e os séculos que se seguiram foram de grande ameaça para os irlandeses e da máxima repressão sobre os católicos, tendo este conflito provocado mais de 3 mil mortes. Finalmente, em maio de 1998 foi assinado o tratado de paz, que entrou em vigor no início de 2000 e, desde então, a Irlanda tem vivido um período de paz.

Esta explanação vem a propósito do acolhimento que foi prestado, em Vila do Conde, a 80 irlandeses foragidos das “labaredas” do conflito. O livro de Sisas do ano de 1604, que faz parte do espólio documental do Arquivo Municipal, regista o seguinte: “Aos 31 dias do mês de julho de 1604, mandaram lançar em despesa 1.200 reis, que deram em pão de esmola a oitenta irlandeses pobres, que vieram num navio a esta vila, de que era mestre Bastião Roiz, que os trouxe da Irlanda embarcados por força maior, por dizerem ser contra a Rainha de Inglaterra e por vir muito desbaratados e para não morrerem à míngua se lhes acudiu com aquela esmola de pão para os sustentar naquele dia”.

Em consonância com o transcrito, no qual atualizamos a grafia, fica patente o espírito humanitário das autoridades de Vila do Conde, assim como as consequências do conflito entre os irlandeses e a coroa inglesa, que obrigou à diáspora dos irlandeses pelo mundo, fugindo por mar para não perderem a vida no conflito, correndo, no entanto, o risco de morrer à fome, caso não tivessem encontrado em Vila do Conde o necessário auxilio.

Publicado no jornal a 27 de julho. Outras opiniões: Abel Maia, Gualter Sarmento, João Paulo Meneses e Carlos Real.

 

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