Já vivo há doze anos no Reino Unido e até à última sexta-feira [5 de julho] apenas conheci um partido no poder: o Conservador. E se nos primeiros três anos assisti a alguma estabilidade, tudo se desmoronou e nos últimos dois anos já vamos no quarto primeiro-ministro.

O residente mais estável de Downing Street é, o gato Larry, que desde que para lá se mudou já teve como hóspedes sete primeiros-ministros. Felizmente temos um felino a garantir estabilidade nos corredores de poder.

Não foi nenhuma surpresa a derrota conservadora. Estamos a falar de um partido que elegeu Liz Truss, a primeira-ministra mais rápida da História. 49 dias que quase destruíram a economia britânica e contribuíram para aumentar a mensalidade do meu empréstimo da casa em cerca de 250 euros. Perderam metade dos eleitores e dois terços dos deputados, e, apesar da maioria absoluta, o partido vencedor teve menos votos que nas eleições anteriores.

Não sei se uma vitória assim se repetirá, até porque muita gente passou a noite eleitoral a beber um shot por cada deputado conservador a perder o lugar. Antevejo que grande parte do eleitorado trabalhista faleça de cirrose depois de 251 shots de vodka numa única noite.

A estratégia do Partido Conservador na última década tem sido no sentido de agradar à extrema-direita do partido, para que não exista uma cisão ou uma fuga de votos para o Chega britânico. E não poderia ter corrido pior, não só perderam eleitores à direita como perderam eleitores ao centro.

A diferença entre percentagem de votos e percentagem de deputados deve-se aos círculos uninominais, em que cada área tem o seu deputado, e as eleições legislativas acabam por ser 650 mini-eleições independentes. E numa delas Liz Truss perdeu e já não vai ser mais deputada. Confesso que essa deu-me uma alegria especial, só é pena não me trazer os 250 euros por mês de volta.

Publicado no jornal a 10 de julho. Outras opiniões:  Romeu Cunha Reis, Elizabeth Real de Oliveira, Pedro Pereira da Silva,  João Paulo Meneses e Sara Padre.

 

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