União Europeia, E.U.A., NATO – eis a tripla realidade etérea de um só deus verdadeiro – o império.
Reuniu-se o império na sua forma mais alargada, com todos os seus vassalos presentes devidamente premiados com todas as migalhas e sobras do banquete. Objectivo declarado: defender a Paz. Mais precisamente, a Paz entre a Ucrânia e a Rússia. Contendores presentes, só a Ucrânia. Ordem de trabalhos: armar a Ucrânia. Objectivo: a vitória da Ucrânia.
Mais uma vez, o império comporta-se como é seu hábito antigo: fala de Paz, mas atira lenha para a fogueira da guerra. Até o Papa se pronunciou a favor do conclave, e de caminho, não se sabe a que propósito, convidou uma caterva de humoristas a reunirem-se com ele. Manifesto excesso de zelo. Ridículo já era que chegasse o que no conclave se iria passar. Não faltou quem sublinhasse o desconchavo de proclamar o objectivo de alcançar a Paz, mas deixar de fora do conclave uma das partes na guerra.
Mas a hipocrisia não ficou por aí.
Porque, a par da guerra Ucrânia/Rússia, uma outra, muito mais desigual, desumana e cruel vai lavrando na Palestina, acumulando milhares e milhares de mortos e feridos e a destruição total de habitações, estradas, hospitais, indústrias e a generalidade dos equipamentos sociais, mas o império até parece que tem gosto em que essa guerra continue.
Pelo menos esquece-a.
Publicado no jornal a 10 de julho. Outras opiniões: Elizabeth Real de Oliveira, Pedro Pereira da Silva, Miguel Torres, João Paulo Meneses e Sara Padre.

