Maio de 2025. A Câmara Municipal de Vila do Conde realizou a segunda edição da “Semana do Pescador”, a repetição de um evento semanal de atividades culturais e gastronómicas em homenagem à história e tradição que liga Vila do Conde ao mar e à pesca. Há que felicitar o executivo municipal pela decisão de realizar esta iniciativa que, sem dúvida, enriquece o tecido social e cultural do concelho. Todavia, há um facto que não pode deixar de ser reconhecido. É que, há 15 anos, o PSD de Vila do Conde lançava no seu programa eleitoral autárquico a realização de um Festival Gastronómico da ‘Festa do Peixe’

Sim, poder-se-á dizer que não é o mesmo que uma “Semana do Pescador”. Mas a precursão da ideia está lá. E isto teria tudo para ser uma mera curiosidade, não tivesse o “novo Partido Socialista de Vila do Conde” içado as velas deste mandato para navegar com bandeiras outrora desenhadas e hasteadas pelos social-democratas Vilacondenses. Hoje falo da “Festa do Peixe”, mas ao longo do mandato já se avistou: a habitação social em conjunto com as IPSS locais (em contraste com a histórica “doutrina” da resposta exclusivamente municipal), as taxas mínimas de IMI e de derrama (ainda que só para PME’s), as críticas aos “truques” e “práticas do passado” de sobreorçamentação de receitas (todavia, “estranhamente” repetidas), o reconhecimento envergonhado sobre o desastre que foi a concessão dos serviços de tratamento e abastecimento de água, and so on… Ora, esta “apropriação” de iniciativas (nalguns casos, e de ideais, noutros) evidencia uma espécie de confissão política velada: “sempre estiveram certos, mas somos nós que agora executamos”. É uma prática comum no jogo político, mas também uma posição que não poderá deixar de ser interpretada como uma crítica aos históricos do PS local, perante este “piscar de olhos” às ideias (e ideais) do baú dos adversários, desta vez para se reinventarem como campeões da causa piscatória. É o reconhecimento tácito de que as boas ideias transcendem cores partidárias. E de que, ao contrário do que se propala nos debates na Assembleia Municipal (curiosamente, por quem também pertenceu ao tal histórico PS), o PSD de Vila do Conde, por muito que nunca tenha vencido as eleições autárquicas, não deixou, nem deixa de poder ter razão nos ideais (e críticas) que defende.

Tal como o mar, a política é feita de marés que vêm e vão. Diferenciando ideias de ideais, nas águas da política, quem não pesca a tempo, arrisca-se a ver os outros lançarem as redes sobre as suas ideias. Mas, no final do dia, por mais ou menos propriedade destas, ganha Vila do Conde, ganhamos todos nós.

 

Publicado no jornal a 12 de junho. Outras opiniões:  Romeu Cunha Reis,Elizabeth Real de Oliveira, Miguel Torres, João Paulo Meneses e Carolina Vilano

 

 

 

 

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