Opinião de Elizabeth Real de Oliveira
Deve ter sido o que passou pela cabeça do José Castelo Branco quando alegadamente empurrou a sua mulher Betty Grafstein pelas escadas abaixo… e o que murmurou, recentemente, a presidente da assembleia municipal de Vila do Conde no final da intervenção de um deputado. Ora, poder-se-ia dizer que a primavera traz destes excessos eufóricos, mas, em boa verdade não. Infelizmente, ser alvo de cobertura mediática em jornal nacional (de ambos os casos aqui mencionados) não é motivo nem de gozo, nem de riso. Apesar do ridículo que se pode retirar dos dois casos, trata-se de uma questão de fundo muito séria. A manifestação de formas de violência (doméstica ou em contexto laboral, física ou verbal) acontece demasiadas vezes e deveria ser severamente punida.
Recentemente a Polícia de Segurança Pública e a Guarda Nacional Republicana divulgaram os dados provisórios relativamente aos crimes de violência doméstica cometidos em 2023. No total, entre as duas forças de segurança, houve 30.323 denúncias e 2.558 detidos ao longo do último ano. Mesmo sendo crime público e com os mais de dois mil detidos não se conseguiram evitar 30 mortes das quais 8 foram suicídios. E esta é a ponta do iceberg, isto é, a parte visível, porque é notícia, porque foi denunciada. Mas e todas as vítimas que se silenciaram? E todas as outras formas de violência que também existem e que não são denunciadas. Violência psicológica, violência no namoro (muitas vezes traduzidas por agressões verbais e controlo abusivo), assédio laboral e sexual, etc. Não existem dados estatísticos para serem aqui apresentados ou comentados. Enquanto isso vai-se enchendo a agenda mediática com casos de Betty e José que ajudam a vender revistas “cor-de-rosa”.
Não se deixem toldar pelo nevoeiro da desinformação. A violência é condenável, deve ser denunciada e punida e principalmente não se devem aceitar desculpas “esfarrapadas”, pois, o seu ato não foi inocente, nem inócuo, já que os danos causados ficam marcados nas vítimas. NÃO É NÃO. E eu digo NÃO à violência.
Publicado no jornal a 15 de maio. Outras opiniões: R. Cunha Reis, Pedro Pereira da Silva, Miguel Torres, João Paulo Meneses e Carolina Vilano. Na atual edição em papel:
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