Opinião de R. Cunha Reis
O fenómeno do racismo em Portugal é conexo com o da imigração, os interesses do patronato agrário, industrial e outro, e a miséria que grassa no mundo. Portugal oferece os salários mais miseráveis da União Europeia. Mesmo assim, quem vive na pobreza extrema de extensas áreas da África, da Ásia longínqua, da América do Sul vê a paga do trabalho que aqui se pratica como capaz de lhe melhorar o seu padrão de vida. Mas a entrada no mercado de trabalho português de um número cada vez maior de imigrantes consubstancia um aumento da oferta de mão de obra que, como é consabido, faz baixar o nível geral dos salários – o que empobrece os próprios trabalhadores portugueses.
E o patronato rejubila. E rejubila, não só porque os salários baixam, como também porque situações como a que agora em Portugal se vive geram conflitos de interesses, e não só, entre aqueles que vivem do seu trabalho por conta de outrem. Os movimentos e acções racistas tendem a acentuar esses conflitos e, em consequência disso, a desconcentrar os trabalhadores das suas lutas por melhores salários e direitos laborais – o que, nos tempos em que vivemos, em que, mercê das novas tecnologias, que fazem avolumar substancialmente a produtividade do trabalho, conduz a um escandaloso acumular de lucros que calca a pés juntos qualquer princípio de justiça laboral.
Publicado no jornal a 15 de maio. Outras opiniões: Elizabeth Real de Oliveira, Pedro Pereira da Silva, Miguel Torres, João Paulo Meneses e Carolina Vilano. Na atual edição em papel:
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