Opinião de Gualter Sarmento
Custa a acreditar que já passaram cinquenta anos daquela maravilhosa madrugada que derrubou a ditadura fascista que durava há quase meio século e condenava o País ao obscurantismo cultural, à miséria, à guerra, à censura e à repressão. Numa só madrugada nasceu o dia pelo qual tantos patriotas, entre os quais muitos vilacondenses, lutaram durante décadas. Tive fundamentada esperança que as comemorações locais do cinquentenário do Dia da Liberdade incluíssem a devida homenagem a esses vilacondenses que combateram por todos nós em tempos tão árduos. Patriotas que pela Liberdade de todos, sacrificaram a sua. Foram perseguidos, presos e torturados. Merecem a nossa gratidão.
O mesmo Executivo Municipal que promoveu, e muito bem, um espectáculo intitulado “Anónimos de Abril” que nos trouxe à memória tantos patriotas que deram a vida para que hoje possamos viver em liberdade, não consideraram importante homenagear os resistentes e antifascistas da nossa terra. Não foi por esquecimento. Fiz questão de os lembrar já há dois anos em intervenções no órgão autárquico que integro e em artigos de opinião que assino. Duma ou de outra forma lá terá chegado a sugestão. Por isso, concluo que foi mesmo porque não quiseram! Peço, por isso, perdão a esses resistentes por não ter conseguido convencer aqueles que dirigem a nossa terra da importância da vossa abnegação, da vossa luta e dos sacrifícios que passaram.
Neste ano que se comemora a derrota do Fascismo, assistimos ao crescimento dos seus bastardos. Se os mais jovens estão desinteressados e os menos novos desencantados, talvez a minha geração não tenha tido a sabedoria de passar os valores de Abril. De Liberdade, tolerância, democracia e solidariedade. Os valores capazes de construir uma sociedade decente e justa. Em nome da minha geração, peço perdão por não ter dignificado o legado de tão nobres patriotas. Contudo, espero que esses valores sejam abraçados por todos e, em particular, por aqueles que são o futuro do nosso País. Não embarquem em cínicos cantos de sereia que só servem os interesses dos mais poderosos. Amem a Liberdade e a Democracia. E acarinhem-nas tal como merecem aqueles que sacrificaram a sua vida por ela. Para hoje afirmarmos sem medo a palavra Liberdade!
Publicado no jornal a 1 de maio. Outras opiniões: Abel Maia, Adelina Piloto, João Paulo Meneses e Carlos Real. Na atual edição em papel: R. Cunha Reis, Elizabeth Real de Oliveira, Pedro Pereira da Silva, Miguel Torres, João Paulo Meneses e Carolina Vilano.
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