Alice Salazar

A revolução do 25 de Abril é também designada por “Revolução dos Cravos” e há um motivo para isso. Uma razão que começou singela e que foi apropriada pelo povo. Naquele dia de 1974, o restaurante onde Celeste Caeiro trabalhava comemorava o primeiro aniversário de portas abertas e o dia seria certamente de festejo com a clientela. Mas estranhamente, a funcionária deparou-se com as portas fechadas e sem aparente motivo. O patrão manteve o segredo sobre o motivo para tão drástica decisão – Celeste só mais tarde saberia da revolução em curso -, mas pediu-lhe que levasse para casa as flores que tinha comprado para oferecer aos clientes e que corriam o risco de murchar.

E assim fez sem mais delongas. Pegou no molho e fez-se ao caminho de regresso, embora intrigada. Pouco depois, em plena rua, surge um soldado que lhe pede um cigarro para matar o vício do tabaco, mas ela não fumadora e à falta de melhor deu-lhe o que tinha mais à mão: um dos garridos cravos. O militar agradeceu e logo o colocou no cano da metralhadora, gerando um momento de boa disposição com os seus camaradas. Envolvida pela empatia, Celeste não resistiu: deu outro cravo a mais um soldado e depois a outro, e ainda a mais um…e por aí fora, até ficar sem nenhum no regaço. Horas mais tarde, praticamente todas as floristas da cidade se encarregaram de tapar com pétalas as armas de guerra. Esse gesto fez com que mais pessoas saíssem à rua, pois “em vez de dar tiros, as espingardas tinham flores”, contou Celeste Caeiro numa entrevista em 1994.

Os cravos vermelhos tornaram-se, pois, no símbolo da liberdade e do 25 de abril. E agora? Será que em Vila do Conde, a população ainda os compra nesse dia e atribui o mesmo significado?

Alice Salazar e José Silva, da florista Florcondense, localizada no centro da cidade, na Rua da Misericórdia, não têm que a tradição está bem enraizada e vai continuar. “Vendem-se bastantes cravos vermelhos para o 25 de abril”, detalhou Alice, embora sejam as “pessoas mais idosas” que mais os procuram já que lhes atribuem “muito mais significado uma vez que viveram aquilo”.

É, uma flor com bastante procura nesta altura e também “é fácil de arranjar” por quem vende porque “quando não há nacional, vem de fora sem qualquer problema”, descreve Alice. E o preço? Cada molho de vinte “rondam os seis euros”, referiu José Silva que conta, também este ano, dar o seu contributo para que Vila do Conde viva o 25 de Abril plenamente.

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