Opinião de Abel Maia
Há figuras que iluminam e iluminaram a vida social e cultural de Vila do Conde, muitas vezes sem darmos por elas, tal a sua grandeza e simplicidade. Quando nos deixam, temos sempre a ideia que não lhes demos o destaque e o aplauso público merecido e necessário. Isabel Lhano é uma dessas figuras. Durante 50 anos exerceu o seu talento. Por cá viveu e trabalhou. Passeou nas nossas ruas, ligeira e portadora de simpatia amiga e da boa disposição, ao mesmo tempo que sonhava para as suas próximas pinturas com os olhos treinados de quem vê para além do rosto, das mãos, e do corpo que tão bem expressou nos seus traços. A cor e a expressividade das suas imagens é o que sobressai no meu imaginário quando penso na sua obra. Representou Vila do Conde no país e no estrangeiro em centenas de exposições individuais e internacionais.
Quando comemorava os 50 anos de carreira deixou-nos. Resta-nos e, sobretudo, aos poderes públicos, perpetuar a sua obra e o seu exemplo. Aguardaremos pelo inelutável reconhecimento que pedure numa das nossas ruas, pracetas ou edificos, como sugeriu Gualter Sarmento para a antiga seca do bacalhau. Da minha parte, sempre que olho para um quadro seu, diariamente, em minha casa, lembrar-me-ei dela. Tive o grato prazer de ser seu amigo e nunca me esquecerei do seu sorriso e abraço. Momentos antes de inicar a escrita deste texto mergulhava no novo livro de Valter Hugo Mãe. Outro Vilacondense que por cá passeia, iluminando-nos. Depois do pesado As Doenças do Brasil, chegou o Deus na Escuridão, que se lê em sofreguidão. Lembro-me da amizade que a Isabel Lhano mantinha com ele e atrevo-me a dizer que ela amou na escuridão, a sua família, a sua terra e os seus amigos, no sentido do autor nesta última edição, sem esperar nada em troca. Até sempre, Isabel.
Publicado no jornal a 7 de fevereiro. Outras opiniões: Gualter Sarmento, João Paulo Meneses, Adelina Piloto e Sara Padre. Na atual edição em papel: Romeu Cunha Reis, Miguel Torres, João Paulo Meneses, Carolina Vilano, Elizabeth Real de Oliveira, Pedro Pereira da Silva.
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