Opinião de Eliana Miranda de Sousa

O santo mártir, antigo soldado romano convertido ao Cristianismo, morreu nos finais do séc. III, executado com flechas, acusado de traição ao Império Romano. O seu corpo foi, depois, atirado a um esgoto público, mas resgatado e colocado numas catacumbas, ainda hoje um lugar de importante referência em Roma. O seu culto inicia-se logo no século seguinte. Tem o seu dia de celebração a 20 de Janeiro.

Se actualmente já não é motivo de quaisquer manifestações mais festivas, pelo menos desde a primeira metade do séc. XVI que o cenário, em Vila do Conde, mostra-se totalmente diferente.

Onde hoje está a igreja matriz, existiu a capela de São Sebastião, espaço outrora conhecido, precisamente, como Campo de São Sebastião, como aparece na célebre carta de D. Manuel I sobre a construção da igreja matriz. Quando esta está concluída, a câmara trata de dar início a reedificação da capela, que “passa” para o largo de onde parte a actual Rua da Lapa – anteriormente chamada Rua de S. Sebastião –, largo ainda hoje com o nome do santo, estando a capela assinalada e desenhada na planta de Vila do Conde do séc. XVI. A documentação sobre esta “trasladação” é um pouco ambígua, já que umas vezes sugere o aproveitamento da pedra da anterior, mas noutras parece tratar-se de uma construção totalmente nova.

A sua procissão foi decidida por várias vezes em reuniões da câmara, ou por se aproximar o dia dedicado ao santo, ou em momentos de grandes aflições como, por exemplo, em anos de peste – assim aconteceu em 1547, 1552 ou em 1580, este último o ano de peste mais conhecido em Vila do Conde por estar registado na inscrição na capela de São Roque. Também a fome ou a guerra eram motivos para se evocar o santo. No documento de 1547, diz-se que a procissão se faça «como se costuma fazer e pelos lugares acostumados», o que revela a antiguidade desta manifestação religiosa, e nos inícios do séc. XVII, dava-se indicação para os principais mesteres terem suas bandeiras representadas nessa procissão. Também quando contratavam alguém para tocar nas igrejas e capelas da vila, uma delas era a de S. Sebastião.

Actualmente, na cidade, existe uma imagem do santo na capela de Santo Amaro.

 

Publicado no jornal a 24 de janeiro. Outras opiniões: R. Cunha Reis, João Paulo Meneses, Miguel Torres, Elizabeth Real de Oliveira e Pedro Pereira da Silva. Na atual edição em papel: Abel Maia, João Paulo Meneses, Gualter Sarmento, Adelina Piloto e Sara Padre.

Array