Começo por onde dói mais, a derrota frente ao Estoril, por 4-0. E começo por dizer, porque é o momento e não me quero esconder atrás de uma formulação equívoca, que entendo ter chegado o fim da linha para Sotiris. Alguns argumentos, apenas relacionados com o que aconteceu no sábado: como o próprio reconheceu, a expulsão ajudou, mas não explica tudo. Entrámos a perder quando o treinador juntou dois médios defensivos aos cinco defesas e apresentou-se (há muitos anos que não via uma coisa destas no onze inicial da nossa equipa) sem qualquer médio mais avançado ou criativo; pior, e para mim incompreensível: já a perder por 2-0, regressa do intervalo sem substituições, mas cinco minutos depois chama dois jogadores. O que é que mudou em cinco minutos? Que plano tinha que se esfumou em cinco minutos? Os jogadores também interpretam o jogo e percebem que alguma coisa não está bem com as ideias do treinador. Para terminar da pior forma, após o apito final, Sotiris saiu disparado para os balneários, deixando os jogadores sozinhos em campo. Ou saem todos, e explicam-se no fim, ou ficam todos. No final, e 10 dias depois de o ter feito frente ao Sintrense, Sotiris voltou a pedir desculpas. A minha pergunta é, para o treinador e para o seu patrão: quantas vezes mais Sotiris terá de pedir desculpas para se perceber que não há mais condições? Insisto. Para o próprio, que me parece uma pessoa muito decente, e para o patrão. Em resumo, o melhor do jogo? O resultado. Podiam ter sido seis ou sete. E o guarda-redes do Estoril sem uma defesa em 90 minutos.
O que aconteceu frente ao Estoril foi apenas uma dramatização, resultado de algum azar, é certo, do que temos visto esta época: más entradas em campo, equipa que só reage quando está a perder, exibições desinspiradas que, como aconteceu na Amadora, por vezes correm muito bem. O problema é estrutural e não é desta época. O treinador não consegue fazer melhor, mas a montante a culpa é de quem construiu este plantel. Que fique claro: estes jogadores sabem e têm de fazer muito melhor. Não o mostraram nem com Freire, nem com Petit, nem agora com Sotiris. São jogadores a ganharem fortunas (o 5º plantel mais caro da 1ª liga, diz-se), mas sem mostrarem porquê em campo. Outro treinador fará melhor? Face ao que expus, a dúvida faz todo o sentido, mas o problema de Sotiris é que me parece que ele próprio deixou de ter condições, sobretudo anímicas, para continuar. Uma coisa é certa: é muito dinheiro para tão poucos resultados.
Decorreu na semana passada a Assembleia Geral Ordinária, para aprovação das contas relativas à época 2024/25. Por razões de saúde, tive de faltar. Por isso só posso falar do que não aconteceu. E o que não aconteceu foi que, pela primeira vez, quebrando uma tradição que o então presidente da Assembleia Geral impusera à Direção, não houve informações sobre as contas da SAD (antes SDUQ). Apenas ficámos a saber que há 19 milhões de euros de prejuízo e que, segundo a Presidente, isso resulta de investimentos em obras e no plantel (o acionista poderia ter vendido alguns jogadores, mas preferiu manter a qualidade da equipa). O que podemos saber mais: se juntarmos os mais de 5 milhoes de direitos televisivos, a SAD teve pelo 24 milhões de euros de faturação. Se Marinakis gastou, vá lá, 2 milhões (é relativo à época 24/25, recorde-se) em obras, isso quer dizer que pelo menos 22 foram para o futebol (números por baixo, insisto). Não é demasiado, para tão poucos resultados desportivos?
Este artigo está na última edição em papel do seu jornal Terras do Ave (veja aqui)
Outros autores de opinião na edição: Romeu Cunha Reis, Miguel Torres, Adelina Piloto, Cristina Augusto e Marta Corrêa Pacheco.
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