O Teatro Municipal, o jardim da Alameda e a rua da Praia, nas Caxinas (para um espetáculo muito especial) são os três polos do Encontro Internacional de Palhaços que começa esta 4.ª feira e prolonga-se até ao dia 21.
Um evento que é esmiuçado, em entrevista publicada na edição em papel do jornal Terras do Ave, ao diretor do Encontro e membro da Companhia Nuvem Voadora, Pedro Correia.
Aqui fica um excerto.
Qual é que é o tema da edição deste ano?
Cada ano tem, de facto, um tema para guiar a programação e, no fundo, inserir o palhaço em diferentes campos. É uma linguagem que está em muitos sítios. Nos hospitais, nos campos de refugiados, nas festas de aniversário e…no cinema, que é este ano o grande tema. Aliás, um dos grandes ícones do cinema foi um palhaço, o Charlie Chaplin
E como é que vão fazer esse casamento?
Através de um programa com espetáculos que têm uma linguagem mais cinematográfica, contemplativa, visual. E, por outro, passando alguns filmes icónicos, como “Evadido” de Chaplin, com música ao vivo do Som do Algodão, ou um documentário muito bonito, de uma realizadora russa [Gabriellle Lubtchansky. Isto a abrir, no dia 15, à noite, no Teatro Municipal. Teremos também, a 16 (21h30), “Parade” do Jacques Tati, um grande ícone do cinema francês, do humor.
De onde virão os artistas deste ano?
De vários sítios como França, Chile, Dinamarca e Espanha. Mas são quase nómadas porque trabalham em diferentes sítios, apesar de terem origens distantes. Estou-me a lembrar de um palhaço muito famoso que, este ano, vamos trazer – o Karcoha – , que é um chileno que já interveio em passadeiras e ruas de praticamente todo o mundo. E que agora vive em Barcelona. Talvez seja o palhaço com mais visualizações no YouTube e que vai estar na rua da Praia, nas Caxinas, no dia 18, às 11h00.
Será a grande figura da edição deste ano ou ainda há uma outra figura?
Também destacamos o Alejandro Escobedo que, por acaso, também é chileno e virá com a companhia, apresentando o espetáculo “Circo Infinito”, no dia 17. (21h30), no Teatro Municipal. Esta companhia tem um trabalho visual muito interessante e é uma oportunidade já que é uma estreia em Portugal.
Falámos dos estrangeiros, mas temos que falar também da arte portuguesa. Quem é que vai estar cá?
Por exemplo, vamos ter o Luís Castro (El Fakiir), no dia 18 (16h00, na Alameda), que é um palhaço que vive em França já há algum tempo. Desenvolve lá um trabalho muito interessante de faquirismo cómico. Teremos também a Tânia Safaneta (no mesmo dia e local, uma hora antes), que é uma amiga de Sintra, uma mulher palhaça, supercómica, que vai apresentar um espetáculo que se chama “Momento Absurdo”.
Algo que marca sempre o Encontro Internacional é a Gala Solidária, que acontece no sábado. Como é que vai ser este ano e é dedicada a quem?
A Gala funciona com pequenos “sketches” dos participantes e de alguns dos convidados especiais. Este ano será no dia 18, no teatro Municipal (21h30), e decidimos oferecer a bilheteira aos artistas que perderam nos incêndios os seus espaços de trabalho. Alguns colegas nossos já estiveram cá no festival e estão com muitas dificuldades em voltar a pôr de pé as estruturas que tinham montado. Muitos deles eram espaços de trabalho, de retiro e de residências artísticas. Com a nossa humilde vamos fazer a nossa contribuição e alertar para o facto.
Como é que tem sido a envolvência dos vilacondenses com o Encontro?
Temos o público das escolas, mas, por outro, também o lado do voluntariado. Equipas de jovens e de pessoas menos jovens que nos ajudam. E este ano há muitas inscrições, pessoas que estão com vontade de participar. No fundo, é isso que também nos interessa, que as pessoas venham, que participem, que riam, que encontrem momentos de pausa nas suas vidas e que sejam felizes, nem que seja por uns minutos.
Rir é essencial nestes dias que correm, é isso?
O humor também é uma espécie de medidor de democracia. Quanto mais censura houver no humor, menos democracia existe nos países, nas cidades. E portanto para mantermos a democracia, também é preciso apoiar o humor e, em concreto, os palhaços.
Passada já a dúzia de edições, o balanço é positivo?
Muito positivo. O evento nunca parou e, na verdade, tem crescido. Atualmente estamos com apoio do Ministério da Cultura e da Direção Geral das Artes, o que também nos dá mais espaço para programar outras coisas, outros tipos de espetáculo. Estamos a fazer quase com o dobro e isso é muito bom.
O Encontro de Palhaços de Vila do Conde já tem o seu canto no panorama internacional?
Sim. É uma área, uma linguagem artística muito específica, ou seja, não há tantos festivais de palhaços como há os de música, por exemplo, mas, ao fim de 12 anos, há um reconhecimento muito grande dos colegas.
E como está a Companhia Nuvem Voadora?
Vai de encontro à última pergunta. Trabalhámos o circo contemporâneo, a linguagem do palhaço, numa nova abordagem, não tanto num contexto tradicional e, sim, tem estado a correr bem. Temos feito o nosso trabalho em diferentes cidades do país. Também temos tido alguma internacionalização e bons projetos para o futuro.
“A Queima de Judas e o Encontro Internacional” são os dois cartões de visita para as pessoas que não estão tão por dentro da vossa atividade. Mas a Nuvem Voadora vai além disso…
Esses são dois eventos bastante trabalhosos. Só a “Queima de Judas” envolve 200 pessoas e três meses de trabalho prévio. Mas, além disso, nós temos um programa de itinerância muito grande. Temos uma dinâmica de espetáculos, de criação e de apresentação de espetáculos muito forte que nos leva a vários pontos do país e não só.
E o que é que a Nuvem Voadora vai apresentar no Encontro?
A nossa última criação, que é um solo. Uma espécie de sequência de outros espetáculos anteriores que têm a ver com o paraíso. Sobre alguém que cai num paraíso… que é um bocadinho diferente daquilo que genericamente pensamos. Será no dia 19, na Alameda, às 16h00. Mas não podemos esquecer que, no Centro de Pesquisa da Companhia, fomentaremos ainda oficinas com João Halley (dia 15) e com Alexandro Escobedo (dias 20 e 21).


