Quando Cristóvão Colombo realizou a sua quarta e última viagem à América, teve o acidente de ver o seu navio encalhado na ilha da Jamaica. Para sobreviver à falta de comida e à hostilidade dos nativos, proclamou que vinha em nome de Deus e que, como prova da sua raiva, esconderia o Sol, aproveitando-se de um eclipse lunar previsto para a altura. Too make a long story short, o eclipse ocorreu e Colombo sobreviveu. Foi endeusado e “o resto é história”.

História que evoco a propósito de Vila do Conde, da política municipal e do ilusionismo. Sabido é que os últimos protagonistas têm optado por uma política de recurso a comparticipações comunitárias na execução das grandes obras. É cada vez mais difícil evocar algo em Vila do Conde que não tenha sido feito com recurso a fundos comunitários ou congéneres. Extensível a quase todas as lideranças: Mário Almeida, Elisa Ferraz e, agora, Vítor Costa. Este último que até nem se coibiu de tecer duras críticas à sua antecessora por ter pontualmente subaproveitado oportunidades de financiamento. E a sua estratégia político-financeira, agora enquanto Presidente da Câmara Municipal, foi precisamente essa: alicerçar os investimentos municipais nos fundos comunitários.

Ora, em política, como na vida, há um tempo para tudo. E tudo isto foi possível porque nos últimos anos – usando a linguagem astronómica – fomos brindados com uma onda de radiosos solstícios oriundos de Bruxelas: os Fundos da Coesão, o PRR e sabe-se-lá- mais-o-quê. Só que os próximos anos serão marcados pelo investimento da União Europeia na defesa, em prejuízo (incontornável) do investimento na coesão territorial e no financiamento dos projetos das autarquias.

Portanto, pergunte-se: quo vadis, Vila do Conde e Vítor Costa? É que a lotaria saiu sem a sorte grande…A tal estratégia assentou no recurso aos fundos comunitários. Mas como isso leva o seu tempo, e antes que o dinheiro viesse – aliás, fosse primeiramente aprovado –, nada como recorrer à banca para dar início às obras. Afinal, as eleições estão sempre à porta e os estaleiros são sempre fotogénicos…O problema é que a execução global das receitas comunitárias contabilisticamente previstas nos últimos 3 anos rondou os 25%… E com a banca à espreita e Bruxelas “eclipsada”, o bife ficou feito. Esturricado, diga-se.

Sucedendo-lhe a previsível gorjeta: os queixumes ao Governo pelo atraso nos pagamentos das comparticipações…Já diz o ditado: em “problemas de tesouraria”, há que (procurar) sacudir a água do capote…

Portanto, e concluindo, avizinham-se tempos negros para Vila do Conde. Sem fundos comunitários e com compromissos por cumprir, haverá uma natural inclinação para uma gestão aos solavancos e (meramente) a reboque dos acontecimentos. Desejar o contrário implicará, parece-me (evidente), mudar a liderança municipal – para uma que seja fresca, mais “subsídio-independente” e mais, muito mais séria. E com a coragem e o pulso político para enfrentar o gigante e galopante papão da despesa corrente…

Este artigo está na última edição em papel do seu jornal Terras do Ave (veja aqui) )  

Outros autores de opinião: João Paulo Meneses, Abel Maia, Miguel Larangeira, Gualter Sarmento e Sara Padre.

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