Há 21 anos Portugal estava inundado de bandeiras. O verde e o vermelho andavam desgarrados ao vento por todas as varandas. A bandeira substituíra o azulejo e a roupa a secar como o objeto típico dna paisagem urbana do nosso país.
Mas o que teria provocado este sentimento patriótico que levou milhões de portugueses a comprar tantos panos Made in China? Nada mais que um brasileiro, pois claro, de seu nome Luiz Felipe Scolari. Na altura o país rendeu-se a um patriotismo simpático para empurrar a seleção de futebol até ao segundo lugar europeu atrás da Grécia. Foi a primeira de várias classificações em que Portugal ficou atrás da Grécia nos anos seguintes. Começou no futebol, passou pelo tamanho da dívida pública e acabou nas intervenções da troika.
E as bandeiras ficaram durante anos e anos. Penso que ainda hoje se vêem ao vento as 5 quinas e os 7 pagodes, perdão, castelos em algumas ruas do nosso país. Foram anos em que algum colorido substituiu o cinzento até o sol e vento desbotarem e desfazerem as bandeiras e aquela sensação de pertença a um bem comum.
Curiosamente, este ano, pela segunda vez na minha vida, o país onde vivo encheu-se de bandeiras. As bandeiras chinesas de Inglaterra e do Reino Unido aparecem nas casas e nos postes de iluminação mas o motivo não é tão ingénuo como o nosso. É um marcar de posição contra quem não nasceu neste país mas decidiu vir para cá morar, tal como eu.
Quando passo por zonas de bandeiras não me sinto muito seguro, sinto que não sou bem-vindo e prefiro evitar. A minha sorte é que vivo em Cambridge e aqui as pessoas são inteligentes e não confundem o amor a um país com a vontade de usar um símbolo aparente inócuo para passar uma mensagem racista e xenófoba.
Um dia em Portugal as bandeiras vão voltar. E pela razão errada. Nesse dia não me vou sentir ameaçado como agora, mas vou sentir-me envergonhado e triste.
Este artigo está na última edição em papel do seu jornal Terras do Ave (veja a 1.ª página aqui)
Outros autores de opinião: João Paulo Meneses, Romeu Cunha Reis, Adelina Piloto e Elizabeth Real de Oliveira.