Com a morte do Papa Francisco surgiram os mais variados comentários sobre o seu pontificado. Uns sinceros, outros de uma hipocrisia infinita. Mas não vou desperdiçar texto com trambiqueiros porque os caracteres são preciosos. Um dos comentadores dizia que “Francisco preferiu visitar os países da periferia do que os de referência”. Frase bem-intencionada, mas que em si mesma desrespeita os ensinamentos de Jorge Bergoglio.

Catalogar um país como periférico é um eufemismo que pretende encobrir a existência de uma espécie de tabela classificativa das nações resultante, quiçá, do recalcamento do ideal imperial-colonialista que teima em não abandonar o imaginário de alguns e que coloca os países economicamente mais poderosos no centro do Mundo. Mas para quem tenha nascido num país dito periférico, crescido, criado família, que tenha visto os seus filhos nascer, crescer e correr pelos secretos recantos dessa terra, repletos de histórias e de História, o seu país não é da periferia, é o centro do Mundo.

Podemos continuar a falar de geografias, mas convido a estender este pensamento a outro foco onde, de igual modo, não deveria haver centralidades nem periferias – a Humanidade! Um dos belos legados de Francisco é o compromisso com a Igualdade e a Fraternidade. Porque todos são essenciais e cada um de nós é relevante!

Se o modelo económico vigente produz injustiça e desigualdade condenando mulheres e homens para a periferia social, é porque esse modelo é perverso e precisa ser alterado. Se a moral dominante não compreende algumas formas de amor e as exila para a periferia dos sentimentos, é porque está assente em preconceitos que têm que ser banidos. Se uma ideologia discrimina as pessoas pela raça aplicando-lhes rótulos de superioridade e inferioridade deportando as últimas para a periferia da Humanidade, é porque se trata de racismo que tem que ser combatido.

Independentemente do género, da idade, da condição económica e social, da cor da pele, do país de origem, da crença religiosa e da preferência sexual, se cada um agir no rigoroso respeito pelos demais tem um lugar fundamental na sociedade. No Mundo e na Humanidade não deveria haver centralidades nem periferias.

O centro do Mundo deveriam ser todos, todos, todos!

Este artigo está na última edição em papel do seu jornal Terras do Ave (veja a 1.ª página aqui)

Outros autores de opinião: João Paulo Meneses, Abel Maia, Pedro Pereira da Silva, Adelina Piloto, Miguel Larangeira e Carlos Real.

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