A extrema-direita costuma ser muito ciente dos seus “valores”, mas os acontecimentos dos últimos dias deixaram-me intrigado.

Uma das principais bandeiras é o respeito pela autoridade, nomeadamente a polícia, defendendo os direitos dos seus agentes e a manutenção da ordem pública. Ora, pontapear e atirar objetos contra a polícia de choque não me parece a melhor forma de defender esta causa, a não ser que tudo isso tenha sido criado para os agentes receberem mais horas extraordinárias por trabalharem durante um feriado.

Outra “causa” é a defesa das mulheres. Nomeadamente mulheres biológicas nos desportos em que participam atletas transgénero. Também não penso que atacar mulheres ao soco e pelas costas seja a forma ideal para as defender. Nem mesmo Imane Khelif, a pugilista argelina que ficou famosa nos últimos Jogos Olímpicos, seria capaz de dar murros tão certeiros a mulheres que se manifestavam nas ruas. O senhor com a camisola da Nike devia perguntar antes se andavam no boxe e se queriam fazer uma sessão de treino no Martim Moniz. Os treinos de pugilismo não contemplam geralmente ataques pelas costas e não colocam frente-a-frente, perdão, frente-a-trás a categoria super pesado masculino contra a categoria peso mosca feminino.

Por fim, a historieta dos valores portugueses e de que os imigrantes trazem o crime e a violência. O facto de muitos dos dirigentes da extrema-direita terem um cadastro criminal alargado, com diversos episódios de detenções, condenações e prisões efetivas faz-nos crer que os valores portugueses se calhar não são muito melhores que os indianos e os paquistaneses. A não ser que o valor português mais importante seja ter episódios com palavras terminadas em “ões”. Nisso, como podemos ver, eles são muito fortes.

Este artigo está na edição em papel do seu jornal Terras do Ave que já encontra nas bancas (veja aqui ).

Outras opiniões são assinadas por João Paulo Meneses, Romeu Cunha Reis e o prior Padre Paulo César Dias

 

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