Normalmente quando me pedem para escrever sobre cinema pedem-me para esmiuçar um filme que recentemente tenha visto e cuja opinião deseje partilhar para aqueles que a queiram ler. Não me considero um exímio sabedor da sétima arte mas sim um apaixonado pela magia que esta sustenta. Em tempo de prémios como os glamorosos oscares da Academia a tantos outros que vão sendo distribuidos nesta temporada, seria fácil e até o ideial debruçar-me sobre um qualquer filme nomeado para os diversos prémios das categorias mas o meu coração faz-me escrever sobre alguém que recentemente partiu e cuja obra fez com que este ser que vos escreve se tivesse apaixonado por cinema. Falo claro de David Lynch.

Apaixonei-me pela obra de Lynch com Twin Peaks. Aquela novela em forma de série mudou a televisão e deixou todos colados ao ecrã a perguntar “Quem matou Laura Palmer?”. Engraçado saber hoje que na mais bela das suas loucuras Lynch nunca sequer pensou em responder a essa pergunta. A magia de Lynch estava no simples e no mais complexo. No paradoxo da existência que se confunde com uma loucura tão genial que faz deste ser uma das mentes mais brilhantes da história da sétima arte. Filmes como “Eraserhead”, “Lost Higway”, “Blue Velvet” e “Mulholland Drive” são algúns dos filmes que deixam a marca de Lynch na arte e sim, digo na arte porque este senhor era mais do que um simples realizador de cinema. Era um contador de histórias, de mundos e quem vê um dos seus filmes, quem olha para um dos seus quadros ou quem lê algo que ele escreveu percebe que David Lynch via o mundo de uma maneira que só os génios conseguem ver.

Não será dificil perceber pelas minhas palavras a admiração e a marca que este cineasta deixou em mim e por isso, em jeito de homenagem, a minha recomendação não vai para nenhum filme, mas sim uma viagem à obra de um homem que marcou a história da televisão e do cinema. Entrem num universo louco e poucas vezes com sentido porque dizia Lynch que se a própria vida não faz sentido, então a arte também não tem de fazer. Espero que gostem e que a genialidade deste homem vos marque tanto quanto me marcou a mim.

Este artigo integra a última edição em papel do seu jornal Terras do Ave (veja os assuntos da 1.ª página aqui).

Outros autores: Romeu Cunha Reis, Miguel Torres, João Paulo Meneses e Elizabeth Real de Oliveira.

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