Não sei se o Rui Veloso veio ao Reino Unido quando estava a escrever a sua música “Não há estrelas no céu”, mas quando ele diz “Para mim hoje é Janeiro, está um frio de rachar, parece que o mundo inteiro se uniu para me tramar”, está a descrever com exatidão o estado de espírito britânico no primeiro mês do ano.

Não sei se terá sido por coincidência que há cinco anos, no final deste mesmo mês, o país efetivou a sua saída da União Europeia, num evento que levou a fanfarra e fogo de artifício para iluminar um mês bastante escuro abafando as notícias de uma doença contagiosa que já saltitava por aí mas cujo primeiro-ministro preferia ignorar para beber o seu champanhe descansado.

Mas o champanhe não durou muito tempo, e cinco anos depois, o primeiro-ministro da altura já desapareceu da vida política e todas as promessas de uma vida melhor entraram em contra-mão e bateram de frente com a realidade.

Segundo o jornal The Independent, as exportações de bens para a UE diminuíram em 27 mil milhões em 2022, isto a acrescentar aos 30 mil milhões que custou o acordo. E mesmo do lado da imigração, a principal bandeira de muitos, em vez de se assistir a uma diminuição, ocorreu um aumento estratosférico com a entrada de mais 3.6 milhões de pessoas no país, agora maioritariamente provenientes de países de fora da Europa.

Não é por acaso que 60% dos britânicos consideram que o Brexit teve um impacto negativo contra apenas 12% que pensam ter sido um sucesso.

Se é certo que em Janeiro continua a estar um frio de rachar, a verdade é que não é preciso o mundo inteiro unir-se para tramar um país. Neste caso foi o próprio país que se decidiu tramar a si próprio.

Publicado na última edição em papel do seu jornal .

Outras opiniões: João Paulo Meneses, Romeu Cunha Reis, Elizabeth Real de Oliveira e Fátima Augusto.

A 1.ª página é esta .

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