A RTP sabe bem que na programação de televisão há horários mais importantes, por serem aqueles em que há mais telespectadores com os olhos nos ecrãs.
É o caso da hora do jantar.
É por isso que a RTP e outros canais escolhem as 20 horas para o início dos seus telejornais, serviço este que é do maior interesse, porque visa manter os cidadãos informados sobre as ocorrências de maior relevância política e social.
Se um telejornal dura uma hora, sobram 23 horas à RTP para as preencher com muitas outras coisas menos importantes, ou, pelo menos, menos instantes, como programas culturais, o desporto em geral, documentários e muitas outras.
Mas, no que se refere ao futebol, desde há muito que o canal estadual o erige em fenómeno ultra-importante bem acima dos graves assuntos que afligem a sociedade portuguesa e o mundo. E assim, se há jogo de futebol que a RTP considere importante programado para a hora do telejornal, pois bem, transmite o jogo em directo e chuta o telejornal para canto. Isto é, para outra hora. Fá-lo com tanta assiduidade e displicência que a grande maioria do público certamente já assumiu que a bola é que está acima de tudo o que no mundo ocorra. Mas o pior é que outrora as transmissões de futebol à hora do telejornal se restringiam a alguns jogos internacionais do sector masculino, mas, entretanto, isto passou a acontecer com o feminino, e a seguir com jogos de campeonatos nacionais, e da taça de Portugal e dos sub-não-sei-quantos. E as federações até gostam, e provavelmente mandam.
Não pode ser! Haja vergonha.
Este artigo está na última edição em papel do seu jornal Terras do Ave (veja aqui)
Outros autores de opinião na edição: Miguel Torres, João Paulo Meneses, Adelina Piloto, Cristina Augusto e Marta Corrêa Pacheco.
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