A morte a tiro de Charlie Kirk, um jovem ativista pró-Trump, colocou em cima da mesa o debate sobre os extremos políticos e o momento de instabilidade que o mundo tem vivido. Nas redes sociais somaram-se celebrações à sua morte e apesar de discordar da sua linha de pensamento, como democrata convicta, estas deixaram-me profundamente consternada. Como é que é possível alguns destes festejos virem de pessoas que pertencem ao lado do espetro político que mais alto grita pela liberdade e pelos direitos humanos? É a democracia escrita por linhas tortas. É inegável que existe um aumento da participação política devido às redes sociais. No entanto, também aumentaram as fake news e o discurso político imprudente. Nestas plataformas, o debate político facilmente se torna indigno, afastando os seus utilizadores de argumentos conscientes e fundamentados, criando-se assim um terreno fértil para o crescimento de movimentos radicais.
Reparo que a minha geração, altamente qualificada, deixa-se levar por discursos verdadeiramente populistas, culturas de cancelamento, partilhas de notícias falsas ou proliferação de ódio gratuito, fatores que podem levar a ações como a fatalidade de Kirk, e que em nada dignificam a democracia.
Ambos os extremos do espetro político, ao invés de procurarem soluções construtivas e
equilibradas, apostam em discursos polarizadores que, fingindo-se de adversários, se alimentam mutuamente. Neste contexto, quem mais sofre é o centro político. Na busca do consenso e do equilíbrio, é constantemente atacado pelos extremos, que preferem ignorar os fracassos das suas próprias teorias e práticas políticas. Também vemos que, a fragmentação do parlamento português é um sintoma claro dessa polarização e torna difícil a criação de maiorias estáveis. Os mandatos não têm sido concluídos e é difícil obter consensos ou ter debates construtivos na própria casa da democracia.
Sendo assim, é essencial que mantenhamos a consciência do nosso objetivo coletivo enquanto sociedade. Apesar das diferenças ideológicas, temos mais em comum do que pensamos. A democracia exige isso de nós: reflexão, entendimento, compreensão e empatia. É fundamental que cada um de nós faça o esforço pessoal de analisar criticamente a política e a atualidade. É crucial também que não subestimemos a importância do ato eleitoral. Cada voto deve ser uma decisão consciente e informada. É preciso analisar a qualidade do partido, as suas propostas e as suas listas, que são, no final de contas, a materialização do nosso voto e a nossa voz nas instituições. Esta avaliação deve ser tanto ou mais importante do que o rótulo ideológico.Ser centrista, equilibrado e moderado nunca foi tão difícil, mas também nunca foi tão necessário. Em tempos de crise, resistir à tentação dos extremos e procurar uma política baseada no diálogo honesto exige coragem. O centro não é o espaço que se limita a apontar os problemas; é onde se criam soluções moderadas e verdadeiramente justas.
*Vice-Presidente da JSD de Vila do Conde
Este artigo está na última edição em papel do seu jornal Terras do Ave (veja aqui)
Outros autores de opinião na edição: Miguel Torres, João Paulo Meneses, Adelina Piloto, Cristina Augusto e Romeu Cunha Reis.
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