As autárquicas estão aí ao virar do fim-de-semana e como resido em Inglaterra não vou poder votar. A última vez que o fiz foi no longínquo ano de 2009 e já nem faço a mínima ideia em quem votei na altura, tal como não faço a mínima ideia sobre quem é o melhor candidato para Vila do Conde, por isso peço desculpa desde já porque este texto não servirá para elucidar o caro leitor.
E isso é uma pena porque até me considero uma pessoa experiente neste tipo de eleições, já que desde que vim para cá votei em 14. Não porque passei cá 56 anos mas porque elas se realizam anualmente em Maio. Os ciclos são na mesma de 4 em 4 anos mas as “câmaras municipais” são órgãos colegiais com 3 conselheiros por freguesia e sem um líder que se destaque com mais poderes. Em cada ano vota-se para eleger 1 desses 3 conselheiros e no ano que sobra vota-se para eleger o nosso representante do condado, que abrange uma área maior, mas que funciona da mesma forma.
Tudo isto leva ao poder estar muito distribuído, a um reduzido culto de personalidade, menos dinheiro para campanhas, nenhuma arruada, nenhum bombo, nenhuma t-shirt e nenhum cartaz.
Apenas se sabe que está em época de eleições por alguns panfletos no correio e uma ou outra casa com uma folha A5 com o nome do partido afixado na janela. E não há nada mais enfadonho do que isto.
Que sorte têm os portugueses com acesso a porco no espeto à descrição. Que sorte têm os artistas por percorrerem o país num Agosto extra de quatro em quatro anos. Que sorte têm os designers gráficos e as tipografias com a faturação de um ano inteiro a cair num único mês. Que sorte têm as rotundas por estarem preenchidas por slogans e fotografias de candidatos. Que sorte temos nós por conhecermos os cartazes da freguesia de Anais em Ponte de Lima a cada 4 anos.
São em momentos como estes que as saudades batem. Caro leitor, aproveite bem estes últimos dias de campanha, uma pessoa só dá valor ao que é importante quando isso desaparece da nossa vida.
Este artigo está na última edição em papel do seu jornal Terras do Ave (veja a primeira página aqui)
Outros autores de opinião na edição: Joaquim Pereira Cardoso, Adelina Piloto, João Paulo Meneses e Carlos Real.
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