O tempo muda a visão do mundo e da nossa condição gregária. Nem sempre muda pelo bem e pelo bom. Os últimos tempos são prova de mudanças consideráveis, com maior ou menor consciência. 50 anos depois da revolução de abril, a direita perigosa e extremista cresce com apoio das novas gerações, e das que vibraram com a democracia surgida de abril, como a minha. Menosprezo nos ensinamentos da história e má memória histórica? Com dissimulações os populistas ganham terreno. Identificam problemas, sempre os haverá, não apresentam soluções que representem valores humanistas, mas conseguem iludir desmemoriados da história, sangados, leitores rápidos das redes sociais e das teorias da conspiração.  Um amigo de Bolsonaro e de Trump está a conseguir convencer os portugueses. Já estamos a ver o caminho contra a parede deste comboio!

 

Vila do Conde não foge à sangria do humanismo que atinge o resto do País. Apesar de manter viva a confiança nesta terra de gente de valores sociais fortes, de trabalho, de solidariedade, apreciadora da democracia e da liberdade, vejo brechas preocupantes: O xenofobismo, a demonização das minorias e o racismo andam de namoro com os populistas. Se o vendedor alardear que a banha da cobra resolve todos os males, sabemos que estes não desaparecem.  Há que ser vigilante, pois a democracia é de cristal. Quebra-se com facilidade. O que pode vir por aí será pior, mesmo que com formas híbridas, como assistimos nos Estados Unidos da América. A subida eleitoral da extrema direita deve ser combatida, como em tempos os portugueses combateram a extrema esquerda de inspiração soviética que se preparava para de modo populista, de forguilha e martelo, criar um regime sombrio para os tempos de então e para todos os tempos. Agora o perigo é de sinal contrário e convém estar alerta não alimentando o sapo com o fumo de muitos votos. A história mostrou o perigo e a realidade.

O comboio das eleições autárquicas arrancou. O facto mais relevante até agora não foi a constituição das equipas para a Assembleia Municipal, ou para a Câmara Municipal, onde a ingratidão com Sara Lobão é visível.  Não é sequer o aliciamento político que PS e PSD fazem aos votos e a figuras políticas da NAU. Há uma espécie de “abutrismo” sobre essas figuras, deixadas órfãs pela saída de cena da sua timoneira. O que destaco é a constituição das listas das freguesias. Fiquei espantado pela ausência de candidaturas do PS em quase metade delas. Abdicar da força política no concelho e render-se à tática do curto prazo vai ser paga no futuro, se não o for no imediato.  O que se está passar em Mindelo e noutras freguesias, deixadas a quem sempre combateu o PS, faz o desencanto espraiar-se por todo o lado. Pode ser que a paisagem repleta de boas memórias do passado socialista do concelho chegue para manter o comboio no trilho, porque do presente o descarrilamento estaria iminente.

Em política é preciso amparar a história, inovando e renovando. Quem não o fez e não o pretende fazer ficará com o engulho e o ónus. Que o diga Elisa Ferraz, esqueceu-se e menorizou a história e aconteceu o esperado, o comboio descarrilou.

Este artigo está na última edição em papel do seu jornal Terras do Ave (veja aqui) )  

Outros autores de opinião: João Paulo Meneses, Gualter Sarmento, Pedro Pereira da Silva, Miguel Larangeira e Sara Padre.

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