No rescaldo das eleições não é possível esquecer o facto mais relevante. O CHEGA é o segundo partido com maior representação parlamentar (embora o terceiro na votação). 50 anos depois do 25 de abril, a direita extremista dá um salto de gigante, que assusta quem supôs que os portugueses estavam vacinados contra populistas de verdades curtas e distorcidas. Afinal não… Alguns acham que resolverão os seus problemas apoiando os mentores de discursos fáceis contra minorias e contra imigrantes. Preocupante, pelo que nos pode fazer enquanto País, pelos danos que pode causar ao lado humanista de um povo que sempre soube conviver com todos os povos do mundo.
O voto em massa no CHEGA dos nossos emigrantes é ainda mais intrigante. A abertura ao Mundo parece que é boa, se for nos países dos outros, no nosso é má!!! É fácil o apelo ao medo. Difícil é defender valores. Vejo gente que bate no peito na missa de domingo e depois verte ódio contra minorias e contra pessoas que procuram, o que, na história, os portugueses sempre procuraram. Uma vida melhor.
Vila do Conde não fugiu ao fenómeno, mesmo sabendo que se não fossem os emigrantes, a nossa pesca tinha colapsado, as nossas obras não se faziam, as nossas fábricas corriam o risco de não produzir tanta riqueza. As exceções, que sempre as haverá, não podem ordenar uma política pública.
Preocupante é a palavra que encontro, mas tenho a esperança nos valores da solidariedade e lembro-me de Camões:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a confiança; / Todo o mundo é composto de mudança, / Tomando sempre novas qualidades. / Continuamente vemos novidades, / Diferentes em tudo da esperança; / Do mal ficam as mágoas na lembrança, / E do bem, se algum houve, as saudades. / O tempo cobre o chão de verde manto, / Que já coberto foi de neve fria, / E em mim converte em choro o doce canto.
Nota: Este artigo está na última edição em papel do seu jornal Terras do Ave (veja o que traz aqui).
Outros autores de opinião: João Paulo Meneses, Gualter Sarmento, Pedro Pereira da Silva, Joaquim Pereira Cardoso e Fátima Augusto