Elisa Ferraz vai abandonar a política local, após décadas como vereadora e presidente da Câmara (eleita pelo PS e depois pelo movimento NAU).
A entrevista que concedeu ao Terras do Ave está na íntegra na edição em papel deste seu jornal, mas temos agora oportunidade de colocar aqui um segundo trecho, como tínhamos prometido (encontra no final deste texto o acesso para a 1.ª parte que ontem disponibilizamos).
Do ponto de vista político, o mandato da NAU teve um primeiro abalo quando Dália Vieira aceitou o pelouro de Vítor Costa. Ficou desiludida com a vereadora?
Fiquei muito desiludida. Considero que, efetivamente, foi uma traição ao movimento NAU e para mim algo completamente incompreensível.
O vereador do PS Mário Jorge Reis saiu e o presidente da Câmara justificou a situação com motivos profissionais do médico, prometendo que ele voltaria mais tarde, o que não aconteceu. Como vê o caso?
Respeito naturalmente a atitude do Doutor Mário Jorge. Ele lá saberá os motivos por que o fez e não farei nenhum comentário sobre essa matéria.
O presidente da Câmara anunciou publicamente que ia processar eleitos da NAU. Já aconteceu consigo?
Já aconteceu. A oposição tem por missão trazer a público aquilo que consideramos que é ilícito, que não está bem. É algo, portanto, cujo percurso seguirá. Logo se verá.
O presidente da Câmara é uma boa pessoa?
Não irei responder a essa pergunta.
Como é que qualifica o trabalho do presidente?
Tem como objetivo endeusar a sua pessoa e criar uma teia de interesses, pensando apenas nas eleições.
Porque é que decidiu não concorrer às próximas eleições autárquicas?
O meu percurso político tinha sido pensado e estruturado para, em mais quatro anos, concluir os projetos estruturantes que tínhamos em mente. Não acho que haja agora quaisquer condições para retomar, no ponto onde estávamos, esse desígnio que tinha. E já organizei a minha vida pessoal, com a qual, felizmente, estou muito bem. Tenho a minha mente bem arrumada relativamente à política e a minha vida familiar, que neste momento é tudo para mim. Portanto, eu estou bem como pessoa e a política ativa, para mim, acabou definitivamente.
E agora, no seu entender, qual vai ser o futuro da NAU?
Em tempo útil, em dezembro de 2024, fizemos uma reunião alargada da NAU, em Árvore, para dar conta que a minha decisão de sair era definitiva e que havia uma pessoa em quem depositaria a responsabilidade de continuar, Pedro Gomes. Que começou a trabalhar no sentido de auscultar um pouco a opinião, nomeadamente, dos navegantes, digamos assim, mas o que se sente é que as coisas já não estão com a força, com a presença que precisaríamos para que a NAU continue. Porque isto é uma determinação nossa: ou é NAU como tal, com os princípios, os objetivos e o percurso que traçámos juntos, ou não há NAU. E como não há condições neste momento para que a NAU continue, porque não sentimos essa vontade forte daqueles que estiveram connosco, então eu anuncio, formalmente, neste momento, ao Jornal de Terras do Ave, que o movimento NAU como tal termina aqui, conclui a sua viagem. Quero deixar um agradecimento a todos os que me elegeram e aos que colaboraram comigo nas mais diversas áreas. Muito especialmente no executivo municipal e aos elementos da assembleia municipal e autarcas de freguesia. Fomos uma equipa coesa e determinada. Traçamos o sucesso da NAU no nosso concelho.
Os eleitos da NAU ficam agora livres para seguir o caminho que entenderem. Mas deixa alguma orientação ou conselho?
Não damos qualquer orientação aos elementos da NAU para apoiarem este ou aquele movimento. Cada um, com o seu o direito próprio, irá apoiar o movimento ou o partido que entender. Como ser individual e não como elemento da NAU. A NAU chegou a bom porto e atraca neste momento.
Terminando o mandato, o que leva da vida política?
Foram inesquecíveis os momentos em que tomei posse pela primeira vez como vereadora e anos mais tarde como Presidente da Câmara de Vila do Conde. Permanecerá para todo o sempre na minha memória as extraordinárias pessoas que conheci e com quem tive o privilégio de trabalhar ao longo destes anos. De igual forma, permanecerá para sempre e de forma inexplicável a imensa, dedicação e paixão com que exerci as funções que me foram confiadas pelos vilacondenses. Agradeço com emoção aos muitos vilacondenses e amigos que sempre me incentivaram, deram ânimo, força, e coragem nos momentos difíceis. Foi essa confiança e apoio que me deu energia e forças para trabalhar e vencer em cada momento e especialmente nos mais difíceis. Numa só frase: Carrego uma enorme satisfação e um orgulho profundo pelo trabalho que fiz.
Qual a mensagem que quer deixar aos vilacondenses?
Que façam uma profunda reflexão sobre o futuro que vão escolher para a Vila do Conde. Que tenham plena consciência e procurem averiguar o que se passa à sua volta. E que reflitam bem nas decisões que vão tomar.
Termina assim a reprodução de mais uma parte da entrevista a Elisa Ferraz (veja a de ontem aqui).
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