Já só tem o dia de hoje, sábado, para participar no “CARPD em festa”, a celebração do 30.º aniversário do Centro de Apoio e Recuperação de Pessoas com Deficiência – ramo da Santa Casa de Vila do Conde – que tem comes e bebes, animação contínua (veja o programa detalhado no final desta página) e, sobretudo, a amizade dos utentes.
As portas das instalações, na rua do Abrantes n.º 5, vão estar abertas entre as 11h30 e as 23h00 e a Misericórdia está contar com a presença de todos os vilacondenses e não só.
Já lhe contámos qual era a expectativa do diretor do Centro com parte da entrevista que está na íntegra na edição em papel do seu jornal Terras do Ave que está nas bancas (encontra, no final desta entrevista a ligação para esse trecho de ontem).
Mas agora Sérgio Pinto revela o trabalho que é feito na instituição.
E para quem desconhece, pode ser algo surpreendente. Ora veja:
Qual é sucintamente a história do centro?
Temos de começar pelo ex-provedor Arlindo Maia, já falecido. Ele fez um inquérito sobre as respostas sociais mais prementes para o concelho. E uma delas, além da terceira idade e das crianças, era a do apoio à deficiência. Logo propôs ao Governo da altura a possibilidade dele próprio e a sua família oferecerem o terreno, a quinta onde estamos, na condição de que o Estado protocolasse as respostas sociais. E assim aconteceu. Ou seja, o CARPD nasce de um ato de generosidade, de um ato de misericórdia incrível. Começámos a receber os primeiros utentes precisamente no dia 14 de novembro de 1994 e, no ano seguinte, em 7 de julho de 1995, fez-se a inauguração.
E atualmente conseguem atender todos os pedidos?
Não. Temos mais de 150 pessoas em lista de espera para o nosso lar residencial onde só podemos acolher 97 utentes, 24 horas por dia, todo o ano. Não fazemos pausas.
A lotação está esgotada?
Completamente. Temos pedidos de todo o país, inclusive das ilhas, e alguns chegam dos tribunais. Continua a haver, em Portugal, uma grande lacuna na área da deficiência.
Não conseguem receber mais?
Não. Sabemos que há muito desespero, muita pressão por parte de famílias que procuram respostas, mas temos um limite que não podemos exceder. Temos o centro montado, quer em recursos físicos, quer humanos, e protocolados para aquele número de respostas.
Mas as vagas não vão surgindo naturalmente?
Não assim tão linear. Nos serviços com crianças, a sua evolução na idade vai abrindo vagas para outros. No caso dos lares de idosos também, devido aos óbitos. Mas nos centros de pessoas com deficiência não é assim. Pode haver anos em que não há nenhuma vaga. Temos pessoas que estão lá desde a primeira hora, há 30 anos, e queremos que fiquem lá mais 30, ou mais.
As pessoas de Vila do Conde têm prioridade?
A preferência, segundo os nossos critérios de regulamento interno, é sempre para o concelho e temos tido essa preocupação. Mas há outros critérios também e o acordo com a Segurança Social, por exemplo, exige tenhamos algumas vagas cativas para ela.
O Serviço de Apoio Domiciliário (SAD) vai conseguindo atenuar a situação?
Tem precisamente esse objetivo: tentar retardar a institucionalização. O ideal é que as pessoas com deficiência, como as crianças e os idosos, estejam nas famílias. Mas sabemos que isso nem sempre é possível e temos protocoladas 20 vagas no SAD, sendo a capacidade para 30. É um apoio muito interessante para os filhos que estão a trabalhar e sabem que, por exemplo, os pais têm assegurada a refeição, a higiene pessoal e habitacional, o tratamento de roupa, etc.
E têm também um CACI (Centro de Atividades e Capacidades para a Inclusão), o antigo CAO (Centro de Atividades Ocupacionais).
Com 120 utentes. O CACI surgiu do CAO e continua a ser um centro de atividades, mas permite a capacitação para a inclusão, algo que até já fazíamos no nosso centro há muitíssimos anos, apostando em trabalhar as capacidades dos utentes.
Por exemplo?
Não conseguimos reverter uma cegueira, mas se calhar conseguimos ajudar essa pessoa. Por exemplo, temos um jovem que é cego e está a fazer um trabalho excelente com massagens para o qual obteve formação. Temos ainda formalizados cinco protocolos de parceria, em que remuneramos utentes e promovemos a sua autonomia.
O que fazem?
Dois estão na nossa instituição como telefonistas, um jovem dá apoio na carpintaria, na reparação e na recuperação de móveis; uma jovem faz um trabalho brilhante na nossa lavandaria e outro ajuda o motorista na distribuição dos legumes pelas cozinhas da Santa Casa. Estes casos, que estão formalizados, chamam-se ASUS, Atividades Socialmente Úteis. Na passada segunda-feira, na celebração do aniversário, assinámos uma parceria com a União de Freguesias de Touguinha e Touguinhó para quatro utentes fazerem a manutenção e a limpeza de arruamentos.
Uma das iniciativas mais conhecidas do CARPD é a “Via Sacra ao Vivo” que realizam anualmente pela altura da Páscoa. Este ano como correu?
Fizemos sete atuações não só em Vila do Conde, mas em Ermesinde, Esposende e Ribeirão. E houve duas mil pessoas a assistir. Foi uma atividade incrível com meses de preparação e que os utentes assumiram muito vincadamente. São pessoas muito autênticas e empenhadas, e mesmo os que não conseguem verbalizar, falam com o corpo. Costumo dizer que trabalhamos muitas componentes: a terapia da fala, a terapia ocupacional, a psicologia, o respeito de uns pelos outros os direitos, a camaradagem e a solidariedade.
E sempre com o apoio dos colaboradores?
No início tínhamos dificuldades em que os colaboradores participassem por algum acanhamento. Agora, o problema é quem vamos escolher porque todos querem participar.
Já agora, quantos colaboradores tem o CARPD?
Centro e três. Um dos segredos do nosso centro são os nossos colaboradores que assumem uma missão de corpo e alma. Vão além do que é meramente profissional. Têm uma dedicação que acontece todos os dias, mesmo quando ninguém está a ver, quando os holofotes se apagam. Fazem com que os nossos utentes se sintam seguros com a presença deles e isso é um excelente indicador. Agradecemos imenso o trabalho brilhante que os colaboradores fazem.
E a Aldeia Natal, como sucedeu?
Pensamos na aldeia de Natal para sensibilizar as crianças para esta área da deficiência. Uma vez nós fomos abordados por uma psicóloga, que estava a fazer um trabalho com uma criança que frequentava uma piscina pública onde iam também pessoas com deficiência e que entrava em pânico, berrava, não queria ir, por as encontrar. Começamos a pensar nisso e decidimos arranjar atividades para desmistificar um bocadinho a situação para algumas crianças. Para que pudessem ver como os nossos utentes são simpáticos, carinhosos e gostam muito de abraços. E avançamos para a Aldeia Natal. Na última edição tivemos 2015 crianças inscritas. E curiosamente, como já vamos na 14.ª edição, algumas, que foram lá pequeninas, já são maiores e continuam a ir porque fizeram amigos no CARPD.
Ou seja, há uma procura de atividade constante na comunidade?
Sim. Por exemplo, a nível desportivo temos já 10 modalidades federadas e somos na Zona Norte o que mais provas participa. É claro que em sinergia com outras valências da Misericórdia. Por exemplo. A nossa equipa coletiva é constituída por utentes do CARP e do Centro de Reabilitação de Fajozes. Para nós também é importante a participação no espetáculo “Um outro olhar”, que é promovido pela equipa DAP de Vila do Conde. Escrevemos sempre um espetáculo original e depois levamo-lo a instituições, escolas e até empresas. No ano passado fizemos cerca de quarenta atuações.
As notícias sobre as instituições de Vila do Conde integram a edição em papel do Terras do Ave como a que está nas bancas.
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Pode ver a parte da entrevista que publicámos ontem aqui


Sérgio Pinto

