Muitas pessoas estão surpreendidas com o resultado das eleições no que respeita a partidos com uma forte retórica anti-imigração nos círculos da… emigração. Fará sentido que, aqueles que saíram de Portugal e sofreram na pele as dificuldades de uma vida distante, votem em quem no seu próprio país tem um discurso em que critica a entrada de pessoas exatamente na mesma situação?
Para mim, que estou lá fora há mais de treze anos, não me surpreende. Aqui no Reino Unido percebo que em comunidades estabelecidas de imigrantes, a entrada de mais e mais pessoas no país não é bem-vinda. Grupos que vieram nos anos sessenta e setenta das Caraíbas e do Sul da Ásia votaram em massa pela saída da União Europeia muito por causa da livre circulação de pessoas.
Os estratos sociais, etários e educacionais de muitos emigrantes portugueses é também muito semelhante ao daqueles que ficaram em Portugal e decidiram votar em quem tem um discurso mais populista. Na maioria dos casos não é por se mudar de país que uma pessoa muda de personalidade. Se antes de sair uma pessoa tinha uns laivos de racismo e uma tendência para acreditar em boatos não é por emigrar que essas ideias irão mudar.
Por outro lado, conhecendo algumas comunidades portuguesas no estrangeiro, também sei que muitas vezes elas são muito fechadas e viradas para si próprias, para a Super Bock e para o porco no espeto. Muitas vezes viver nessas comunidades é igual a viver em Portugal, as pessoas só falam para portugueses e só trabalham com portugueses, a única diferença são meia dúzia de placas na estrada.
Por exemplo, a única diferença entre a pequena vila de Thetford no Norfolk (onde às vezes vou comprar entremeada e comer bife na pedra) e Albufeira é que em Thetford a língua mais falada na rua é o Português e em Albufeira é o inglês. E em ambas as terras neste momento está tudo de acordo: ninguém quer imigrantes.
Este artigo está na edição em papel do seu jornal Terras do Ave que já encontra nas bancas (veja aqui a 1.ª página).
Outras opiniões são assinadas por João Paulo Meneses, Romeu Cunha Reis, Rui Saavedra, Elizabeth Real de Oliveira, Marta Calado e Carolina Vilano.

