A festa do Santíssimo Sacramento foi, durante muito tempo, a procissão das procissões, servindo de paradigma para os demais atos processionais. Em Portugal, os primeiros registos desta celebração remontam ao século XIV, ao reinado de D. João I. Em Vila do Conde, a festividade está documentada desde o século XV, o Executivo da Câmara Municipal reunido a 21 de julho de 1466 deliberou e passo a citar: “(…) acordaram e verearam que Fernão Gonçalves, tecelão, seja Cristo em todos os dias do Corpo de Deus”. A procissão saía da igreja situada no Monte do Mosteiro, antigo Crasto de S. João, descia a Rua Direita e seguia um percurso ao longo do rio até ao Mosteiro, recolhendo de seguida à igreja. A festa do Corpo de Deus distinguia-se de todas as outras pela sua magnificência e participação popular e, talvez por isso, as Câmaras Municipais tornaram-se as suas promotoras e financiadoras.

A tradição dos sugestivos e belos tapetes de flores naturais costuma repetir-se em Vila do Conde de 4 em 4 anos, periodicidade só alterada pontualmente, como aconteceu em 2021 devido às contingências da pandemia de Covid, mas que este ano de 2025 voltará a ser modificada, parece-me que por motivos político, eleitoralistas e propagandistas, irá embelezar, mais uma vez, as principais ruas do casco histórico da nossa cidade.

Em Vila do Conde, os tapetes de flores naturais estão documentados desde a 2.ª metade do século XIX, e crê-se que tenham tido como fonte inspiradora o antigo costume do lançamento de juncos e de espadanas nas ruas por onde passava a procissão. O Executivo da Câmara Municipal reunido a 27 de maio de 1834 deliberou, “que os moradores das ruas por onde costuma passar a dita procissão, tenham as suas testadas (parte da rua ou estrada que fica à frente de um prédio) varridas e cobertas de flores ou heras cheirosas e os janelos adornados com cobertas”.

Nota: Este artigo está na última edição em papel do seu jornal Terras do Ave (veja 1.ª página aqui)

Outros autores de opinião: Abel Maia, Gualter Sarmento, Pedro Pereira da Silva, João Paulo Meneses e Carolina Vilano

Array