O Papa Francisco, no dia 21 de abril, segunda-feira de Páscoa, depois da aparecer na varanda da Basílica de São Pedro, no domingo da Ressurreição, para saudar os fiéis, dizendo-lhes “Irmãos e irmãs, Feliz Páscoa!”, morreu aos 88 anos. O mundo iniciou, assim, a oitava da Páscoa em silêncio.
A notícia da morte do Papa Francisco, o filho de emigrantes italianos, nascido a 17 de dezembro de 1936 em Buenos Aires, Argentina, percorreu os quatro cantos do mundo com a leveza de um sussurro e o peso de uma comoção universal. Não se tratava, apenas, do anúncio do fim de um pontificado, mas a partida de um homem que, com a sua simplicidade, ternura e coragem, marcou uma era na Igreja e na humanidade, tornando-se, para muitos, um símbolo incarnado da misericórdia e da compaixão de Deus.
Francisco foi um homem do povo, moldado nas ruas de uma cidade vibrante e complexa. Ainda jovem, ingressou na Companhia de Jesus, escolhendo um caminho de serviço e humildade. Como sacerdote, pela palavra acessível e pelo olhar atento ao sofrimento humano, destacou-se pela proximidade aos mais pobres. Não buscava títulos, mas vidas sofridas. Entre os bairros esquecidos e os hospitais a abarrotar, ali se forjava o homem que um dia o mundo conheceria, e amaria, como Papa.
Em 1992, nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires e mais tarde arcebispo da capital argentina, Bergoglio consolidou-se como uma figura pastoral, silenciosa, quase ascética. Quando foi criado cardeal, por São João Paulo II, em 2001, recusou o luxo e pediu aos fiéis que não viajassem a Roma para acompanhá-lo, mas que dessem o dinheiro aos pobres. Durante esse período, enquanto cardeal, publicou reflexões e escritos marcados por uma espiritualidade profundamente humanista, comprometida com as realidades sociais e culturais da América Latina.
A eleição de Francisco ao pontificado, em março de 2013, foi um marco histórico: o primeiro Papa jesuíta, o primeiro do continente americano e o primeiro a escolher o nome do poverello de Assis. Esse nome foi o prenúncio de um estilo papal que viria a surpreender o mundo. Desde os primeiros gestos até às grandes encíclicas e viagens pastorais, Francisco orientou a Igreja com três palavras-chave: misericórdia, diálogo e periferia.
Entre os documentos que definem o seu pontificado, destacam-se a encíclica Laudato si’, sobre o cuidado da casa comum, e Fratelli Tutti, um apelo à fraternidade universal num tempo de muros e divisões. No entanto, mais do que os textos, foi o testemunho. Francisco lavou os pés de presos; chorou com migrantes; tocou feridas físicas e espirituais com as mãos de um pastor que sempre quis cheirar a ovelha.
O nosso país teve com Francisco uma ligação de particular afeto. A sua vinda a Fátima, em 2017, para a celebração do centenário das aparições e a canonização dos pastorinhos, tocou-nos. “Queridos peregrinos, temos Mãe. Temos Mãe!”. Com estas palavras, emocionou profundamente o povo português e, do altar do mundo, consolou os órfãos de toda a terra. Regressaria, em 2023, para a Jornada Mundial da Juventude. Um momento inesquecível para milhões de jovens, onde também estive, encontrando nele um membro da família, um avô espiritual, simples e autêntico.
Com a sua partida, abre-se um tempo de luto e de esperança em que a barca de Pedro continua a sua travessia no mar encapelado do mundo. A Igreja, bimilenária e sempre jovem, terá um novo timoneiro que saberá olhar para trás, com gratidão, e para a frente, com fé. Neste caminho eterno de Páscoa, a missão continua no imperativo “levar Jesus a todos e todos a Jesus”.
Sob o olhar materno de Maria, Mãe da Igreja, elevemos a nossa oração ao Pai, por nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo, para que nos conceda um Sumo Pontífice servo e fiel, peregrino e missionário, capaz de nos fazer seguir, com os pés bem assentes no chão e os olhos fixos no céu, rumo à eternidade, onde vive, para sempre, o nosso querido Papa Francisco, pastor do mundo!

Pe. Paulo César, Prior de Vila do Conde
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Este artigo está na edição em papel do seu jornal Terras do Ave que já encontra nas bancas (veja aqui ).
Outras opiniões são assinadas por João Paulo Meneses, Romeu Cunha Reis e Miguel Torres.

