Com o mote “50 anos de futuros e liberdades” e um programa recheado de eventos, a Escola Secundária José Régio está festejar a 26 de maio o seu cinquentenário. E na próxima segunda-feira ocorrerá um dia em cheio com diversas atividades e uma sessão solene, às 9h30.

É a altura que consideramos ideal para conhecermos mais de um estabelecimento de ensino por onde passaram milhares de vilacondenses, através de uma entrevista ao seu diretor, António Almeida (na imagem com Celeste Novo a subdiretora), que este ano, por imposição legal, deixará o cargo.

Avançamos com um pequeno trecho, mas a entrevista está na íntegra na edição em papel do seu jornal Terras do Ave.

Quantos pessoas trabalham na escola?

Mais ou menos 160 professores e mais quatro dezenas de funcionários. Com técnicos, psicólogos, monitores… sensivelmente 210 pessoas.

 

Quantos alunos frequentam ensino regular e em que áreas?

836 no Secundário e 153 no básico [7.º (uma turma), 8.º (duas) e nono ano (três)]

 

No secundário quais são as áreas?

Todas as que constituem o secundário: Ciências de Artes Visuais, Ciências e Tecnologias, Ciências Socioeconómicas, e Línguas e Humanidades.

 

E nos cursos profissionais?

São 245 alunos no 10, 11.º e 12.º.  No 10.º temos cinco cursos:  Análise Laboratorial, Cabeleireiro, Eletrónica, Multimédia e Restaurante /bar. Nos anos seguintes temos algumas turmas agregadas, com dois cursos em simultâneo e aí aparecem os de Auxiliar de Saúde, Vendas e Farmácia. Todos dão uma dupla certificação que é reconhecida nos países da União Europeia, que é uma vantagem para os alunos.

 

E têm também um Centro Qualifica….

Que é feito com muito rigor, como devia ter acontecido no passado, no tempo dos famosos CNO [Centros de Novas Oportunidades]. É u, enorme contributo para a certificação das competências dos nossos adultos e isso dá-nos um enorme prazer.

 

Para quantas pessoas?

Temos mais de 400 inscritos, mas não podem ser olhados como os alunos do ensino regular. Os adultos entram, fazem os seus projetos de vida e os seus relatórios. São avaliados e acompanhados pelos nossos formadores. Depois têm de apresentar e defender o seu projeto.

 

A escola apoia também a comunidade migrante?

Temos seis turmas de PLA [Português Língua de Acolhimento], mais uma do que no ano passado, com pessoas oriundas de outros países como França, Estados Unidos, Ucrânia, China… aliás, temos uma turma só com adultos chineses.

 

E há atividades organizadas para os períodos não letivos?

Várias e temos os clubes de Astronomia, Matemática, Ecologia, Fotografia e Vídeo, Robótica, Teatro, Ciência Viva e, é claro, o de Rendas de Bilros.

 

Sendo esse artesanato um ex-libris de Vila do Conde tem uma atenção especial?

O ensino das rendas de bilros confunde-se com a história da escola e tem muito carinho nosso. Começou há muitos anos e até fora da escola, no museu, mas por várias circunstâncias e porque a escola passou a ter outros espaços, consideramos que era importante tê-lo aqui. É de elementar justiça, neste aspeto, lembrar [o papel] da colega Teresa Pimenta, que é a imagem dessa arte na nossa escola. E ao contrário do que acontecia há alguns anos, há alunos, rapazes, também integram esse clube.

 

Os alunos têm aderido aos clubes?

Sem dúvida. E muitas vezes a aprendizagem fora da sala de aula não só complementa, como também solidifica conhecimentos. Dá outras perspetivas e motivação para o estudo.

 

A escola é composta hoje por vários órgãos. Quer explicar a função de casa um? 

O Conselho Geral é um órgão que agrega as forças vivas do concelho e monitoriza a escola. O Conselho Pedagógico é muito, muito importante, porque dita aquilo as regras do que é, no fundo, o objetivo da escola. Pode fazer os ajustes nos currículos, analisar o desempenho dos alunos e até o dos professores, entre outras intervenções pedagógicas. O Conselho Administrativo é também essencial porque a escola gere dinheiros e, finalmente, temos a direção.

 

Que elabora um Plano de Gestão…

Para quatro anos. O atual termina neste 2025.

 

E qual é o principal alicerce do seu plano?

O sucesso dos nossos alunos. Não só académico, mas enquanto cidadãos responsáveis, que aceitam as diferenças e a diversidade, a verdadeira inclusão. Uma escola que não deixa ninguém para trás.  E isso não é medido por nenhum “ranking”.

 

Já que fala dos “rankings”, concorda com as extrapolações que são feitas com os números?

Eu sou de matemática e, portanto, sei muito bem o que a estatística dá para mostrar, mas também dá para inventar. Primeiro, devemos perceber que os “rankings” devem nos ajudar a fazer uma análise e, internamente, refletir. Há sempre muito a mudar. Mas os números são apenas indicadores. Por exemplo, é incomparável a situação de uma escola com 300 alunos inscritos num exame com outra com 50, que até pode ter a sorte de ter bons alunos ou o contrário e cair a pique. E depois um “ranking” não reflete o trabalho que é feito.

 

Pode exemplificar?

Por exemplo, não colocamos num cartão a existência de explicações, mas nós temos explicações aqui dentro. Nós damos apoio na escola. Claro que cada um é livre de escolher e dar as explicações que podem aos seus filhos, mas nós é que não podemos esquecer os que não podem. E para muitos desses obter um 10 ou 11 já são vitórias.  Felizmente, há pais e ex-alunos que passaram por aqui e sabem o trabalho que é feito. Não é por acaso que a escola tem uma boa imagem

 

Então a ideia que tem é que os alunos, nomeadamente os que vão para o ensino superior, saem daqui com uma boa bagagem?

Sim. E vão preparados para a vida. Para lidar com os desafios e até frustrações.

 

A escola tem ligações com as instituições do ensino superior que existem aqui no concelho?

Sim, aprofundamos muito as relações com instituições, mas não só do concelho. Inclusive temos alguns protocolos de colaboração assinados.

 

A escola tem um contrato de autonomia e supostamente independência para tomar decisões. Isto é de facto assim, ou é quase assim?

A filosofia desse contrato de autonomia já está ultrapassada há muito no que diz respeito à tomada de decisões. A colocação de professores e termos uma palavra a dizer quanto aos cursos devia ser algo a trabalhar, embora sejam matérias muito difíceis.

 

As obras aqui na escola foram inauguradas em 5 de outubro de 2010, há quase 15 anos. Já são precisos arranjos?

Temos muito bons funcionários e aqueles que possuem capacidade para ajudar nessas áreas de manutenção mais simples têm-no feito. E temos contado com o apoio da Câmara Municipal naquilo que é possível. Mas está é uma escola da Parque Escolar, que contribui sempre que é possível, mas nem sempre com a rapidez que gostaríamos.

 

Mas há trabalhos necessários?

Sim, a escola está a precisar. Temos alertado a Parque Escolar e a própria Associação de Pais também tem pressionado. O que sabemos é que está prevista uma ação de fundo em três fases para resolver problemas como os do muro, de infiltrações e até dos estores. É claro que isto obriga à realização de concursos e julgo que até o final deste ano letivo queriam arrancar com a primeira fase.

 

E o relacionamento com a Câmara Municipal é bom?

Foi sempre bom e o cuidado que a Câmara Municipal tem com a Educação tem permitido uma boa entreajuda.

 

E da comunidade em geral? Encontra compreensão para o vosso trabalho?

Passamos por fases complicadas aquando foi da avaliação do desempenho, da COVID e da recuperação do tempo de serviço, mas estamos num período mais calmo. E nós damos tudo o que é possível para que a escola funcione. Para que tenha sucesso e seja um marco, um exemplo neste concelho e, se possível, no país.

 

E sente que os encarregados de educação participam na vida da escola?

Temos tido, sensivelmente desde 2010, associações de pais dinâmicas e com bons presidentes. Isto não quer dizer que digam sempre ámen, não é isso, pelo contrário, quando surge um problema procuramos resolver em conjunto. As associações de pais e de estudantes formam uma parte integrante e ativa daquilo que se pretende para uma escola. Não são forças contrárias. Diria que temos muita sorte porque haverá lugares onde isto não acontece.

 

A Escola Secundária José Régio é segura?

No interior da escola garantidamente, mas isso não quer dizer que, de vez em quando, não surja uma situação em que temos de atuar. Mas os nossos assistentes operacionais são pessoas incansáveis, que estão atentas. E são capazes de abordar o aluno, falar com ele ou direcionar a situação para o sítio certo.

 

E a insegurança vinda do exterior?

Já tivemos um ou outro episódio, mas foram esporádicos. E quando há problemas pedimos a colaboração da Polícia Municipal ou da PSP que têm prestado uma colaboração excecional.

 

As escolas são pontos apetecíveis para quem quer transacionar produtos que levam a adições…

Isso cá dentro dificilmente acontecerá porque atuamos de imediato. E se soubermos que sucede aqui perto, por exemplo nas paragens de autocarros, também alertamos quem de direito. O que não fazemos é deixar passar a situação.

 

E a assiduidade dos alunos é um problema?

Quanto mais eles estiverem próximos da idade dos 18 anos é mais difícil, sobretudo nos cursos profissionais há aquilo que se chama reposições. Não diria que é um problema na nossa escola.

 

E o abandono escolar?

 

No básico não e nos primeiros anos do secundário também não é assim muito visível. No profissional, s temos um problema que é o facto de alguns pretenderem, quando atingem os 18 anos, entrar no mercado de trabalho. Por vezes é difícil impedir, mesmo demostrando que é algo de que eles se vão arrepender mais à frente.

 

Os vossos cursos profissionais têm ainda concorrência de outras instituições?

A nossa é uma escola pública. Pagamos a alimentação, os manuais e a deslocação, mas não em dinheiro, em espécie. O que faz toda a diferença para algumas famílias. Há uns anos recebemos pedidos de transferência para uma determinada instituição porque os alunos lá iam ganhar, entre aspas, duzentos e tal euros. E nestes tempos complicados por vezes esse dinheiro faz a diferença no seio familiar.

 

E esta é uma escola inclusiva?

Tira-me um bocado do sério que uma escola pública não seja inclusiva. Tem de ser para todos. Isso é um dos grandes alicerces da nossa escola. É inclusiva a todos os níveis. Para os alunos de educação especial, os de famílias mais desfavorecidas e todos os outros. E para os que são bons alunos também.

 

Este é apenas o trecho de uma entrevista que encontra na íntegra na edição em papel do seu jornal Terras do Ave.

 

 

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