Em 2019, Portugal deu-se conta que tinha formado a melhor enfermeira do Reino Unido (com prémio ganho e tudo) embora não tivesse um emprego para ela, no caso para a vilacondense Sílvia Nunes. E isso fez estremecer o país do ponto de vista mediático.

Publicamos em seguida um trecho da entrevista à emigrante de Vila do Conde adiantando que encontra esse trabalho, na íntegra, na edição em papel do seu jornal Terras do Ave que está nas bancas

 

Como é que tem sido a sua vida desde então? Mais tranquila?

A vida continua a decorrer normalmente. Eu tenho uma vida calma, dedico-me à minha família, amigos e trabalho.

 

Relembrando um pouco a sua história de vida, começa a ter contato com a área da Saúde nos bombeiros de Vila do Conde. Era muito nova?

Quando ingressei no quadro dos Bombeiros Voluntários de Vila do Conde eu tinha 18 anos.

 

Enquanto fez a sua formação superior na Escola Superior do Vale do Ave continuou a ser voluntária dos bombeiros?

Continuei a ser bombeira voluntária durante a minha formação académica e até ao momento que deixei Portugal para me mudar para Inglaterra em 2014.

 

E chegou a ser profissional nos bombeiros?

Cheguei a ser bombeira profissional, mas maioritariamente fui voluntária.

 

Quando se licenciou em enfermagem o mercado de trabalho estava muito fechado?

Na altura sim, a oportunidade de trabalho era um pouco escassa.

 

Ainda se sentia o peso da “Troika” e é nessa altura de aperto financeiro no país, que decide fazer as malas e abalar. Saiu mais desiludida ou esperançosa?

Na altura lembro-me que estava triste e que um grande capítulo da minha vida estava a terminar, mas longe de mim pensar que alguma vez iria ter a felicidade que tenho neste momento.

 

E porquê a Inglaterra?

Eu já tinha familiares e amigos em Inglaterra e era um país não muito longe de Portugal.

 

Na sua família já havia casos de emigração?

Os meus pais estiveram em Angola durante muitos anos, por isso quando eu emigrei não foi um caso isolado na família.

 

Curiosamente, quando chega a Inglaterra começa por desempenhar, profissionalmente, tarefas eventualmente mais simples, mas mais duras. Conte-nos um pouco como decorreu a progressão da sua carreira?  

Eu comecei a trabalhar nas limpezas, não diria que foi um trabalho simples ou com tarefas duras. Foi um trabalho honesto que me ajudou a integrar na comunidade aonde vivemos agora.  Enquanto esperava pelo registo na ordem de enfermeiros inglesa, eu comecei a trabalhar como auxiliar de saúde e aperfeiçoar o meu inglês. O registo demorou cerca de 10 meses. Durante este tempo fiz formação, comprei livros de enfermagem e fui-me integrando da terminologia em inglês. Assim que o registo ficou completo, comecei a exercer funções de enfermeira. Fui promovida a Diretora Clínica e 6 meses depois mudei-me para outro lar como vice-diretora. Trabalhei num hospital local no serviço de urgência e nos cuidados intensivos durante a pandemia do COVID-19. Durante, 18 meses trabalhei como enfermeira da melhoria da qualidade a nível distrital.

 

E pelo meio surgem os prémios, primeiro o regional (2018) e o tal nacional no ano seguinte em 2023 um galardão em nome da equipa da sua instituição. De alguma forma, as distinções contribuíram para solidificar a sua carreira?  

Sem dúvida que estes prémios foram importantes e são o reconhecimento do nosso trabalho e dedicação. A instituição onde trabalho tem categoria de excelência e estes prémios dão-nos visibilidade e são um testemunho dos cuidados que prestámos.

 

Em concreto qual é a função nesta altura e o que é que ela implica?

Atualmente, sou a Diretora de um lar para pessoas com idades a partir dos 18 anos, que requerem cuidados de enfermagem 24/7, maioritariamente cuidados paliativos e de fim de vida.

 

Ou seja, também tem trabalho de gestora?

Atualmente, eu sou a gestora da instituição, mas também trabalho na prestação de cuidados.

 

O sistema inglês de apoio a idosos tem semelhanças com o português? E é mais ou menos exigente?

O sistema de apoio ao idoso ou a qualquer pessoa que precise de cuidados numa instituição é mais exigente do que em Portugal.

 

Para termos uma ideia, o que é acha que cá devia ser feito e que em Inglaterra funciona?

Em Inglaterra, uma instituição que empregue enfermeiros tem de ter alguém na Equipa de Gestão que seja enfermeiro, e que seja responsável pelos cuidados de enfermagem prestados. Para ser diretora de uma instituição de saúde, temos de ser registados numa entidade que se vai responsabilizar e garantir que a lei é cumprida. No meu caso em particular, eu seu a responsável legal do lar, mas tanto eu, como a minha vice-diretora e a Diretora Clínica somos todas enfermeiras.

 

Sente-se realizada e acarinhada em Inglaterra?

Sinto-me bem e feliz em Inglaterra, já vivemos aqui a 10 anos e estamos bem integrados na comunidade local.

 

A sua integração e a da família correram bem, mesmo com o Brexit e o pós-Brexit?

Não tivemos qualquer problema com o Brexit.

 

Em retrospetiva, emigrar foi o melhor que podia ter acontecido ou um mal necessário? 

Eu gosto muito de Portugal e viajo frequentemente para visitar a família e amigos, mas foi sem dúvida o melhor que me podia ter acontecido.

 

Certamente terá tido abordagens para trabalhar em Portugal. Já pensou em regressar ou, nesta fase, é um cenário que não se coloca?E após a vida profissional?

Tive algumas ofertas de trabalho e podia ter regressado. Contudo, não esta nos planos regressar a Portugal num futuro próximo.

 

Mas sente saudade do país? Sobretudo do quê?

Claro que sim, eu adoro o nosso país. Admito que sinto saudades da gastronomia, não há nada como a nossa comida e o nosso vinho.

 

E de Vila do Conde particularmente?

A nossa cidade e muito bonita, e tem ordenamento que encanta.

 

Há um conjunto de perguntas mais ou menos comuns, que temos colocado nesta rubrica. Como esta: vai acompanhado o que se passa por cá, em Vila do Conde?

Acompanho pelas notícias online e o que familiares e amigos partilham.

 

Qual é o recanto de que mais gosta em Vila do Conde?

Gosto muito da zona fluvial e da zona histórica da cidade.

 

Como é que descreve Vila do Conde às pessoas do país onde se encontra?

Por norma mostro fotos da cidade, e descrevo como uma cidade bonita, onde o rio se encontra com o mar.

 

A primeira coisa que faz quando regressa a Vila do Conde é…?

Passear a beira do mar, tomar um café e comer um doce de ovos

 

Como lhe referimos encontra esta entrevista na íntegra na edição em papel do seu  Terras do Ave cuja aquisição é uma das formas que tem para auxiliar o jornal a continuar o seu trabalho (veja a primeira página aqui). 

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