A reunião de câmara de Vila do Conde teve, ao final da tarde desta quinta-feira, um momento inusitado: sensivelmente a meio, Eliza Ferraz abandonou o Salão Nobre onde decorria o encontro da vereação depois do presidente, o socialista Vítor Costa, ter autorizado a réplica de Pedro Soares às críticas que lhe formulara a vereadora do movimento independente Nós Avançamos Unidos (NAU).

Desde o início que a reunião decorreu de forma crispada. Começou por Vítor Costa anunciar mais uma queixa-crime contra a NAU devido a uma publicação feita pelo movimento nas redes sociais sobre uma alteração do Plano Diretor Municipal alegadamente feita “cirurgicamente” pelo presidente da Câmara.

Este último leu documentos elaborados pelos responsáveis dos  Serviços Municipais que validavam a sua atuação e sentindo-se vítima de “insultos e calúnias” anunciou que iria recorrer às “vias judiciais” .

Na resposta,  Pedro Gomes (NAU) leu na íntegra, em todo provocador, todo o o conteúdo do “post” em causa que, assim, passará a figurar também na ata da reunião.

A decisão do Tribunal de Contas (TC) de arquivamento à análise  ao custo excessivo de concertos do verão passado (uma denúncia da NAU) foi o “round 2″ do desentendimento entre as partes.

Vítor Costa chegou a mandar suspender os trabalhos para que a funcionária fosse buscar o despacho que o edil leu na íntegra para reforçar que o assunto tinha sido arquivado.

Pedro Gomes contrapôs que tinha um outro documento do mesmo TC em que este dizia que não se pronunciava porque a factualidade não integrava o âmbito das suas competências. E disso a NAU já recorreu, revelou.

O ambiente prosseguia tenso entre NAU e Vítor Costa quando Pedro Soares se juntou à festa. Dizendo-se cansado das constantes “insinuações” do movimento independente acusou-o de “populismo” e de falta de recordação da sua atuação quando governou o município.

E de seguida, num modo suave, questionou o presidente sobre matérias que permitiram, numa sessão pública, Vítor Costa puxar dos galões. Como vai ser o pavilhão de Bagunte? As obras dos passadiços já acabaram? Como vai ser a feirinha da Páscoa?… foram algumas dos temas que permitiram a Vítor Costa explanar, de forma elogiosa, a ação da sua gestão.

Perante isto, Elisa Ferraz quebrou uma promessa que diz ter feito a si mesmo – a de não voltar a intervir numa reunião – e qualificou a atitude de Pedro Soares de “hipocrisia política” já que “à revelia” do partido pelo qual foi eleito (PSD) “passou a mão ao poder” apenas tendo em vista os seus “interesses pessoais”. “

Mais valia passar-se para o outro lado [entenda-se para a maioria PS]”, atirou Eliza Ferraz pedindo ao presidente que não permitisse a continuidade do “arremesso” de acusações, caso contrário preferia sair da sala a ter de continuar a ouvir Pedro Soares.

O edil alegou que não podia impedir a intervenção de um vereador que solicitava a palavra para se defender de críticas e Pedro Soares ainda estava nas primeiras frases quando Elisa Ferraz arrumou as suas coisas e saiu porta fora.

O eleito pelo PSD lamentou a “falta de democracia” demonstrada por Elisa Ferraz, descreveu o que representa no PSD (disse estar no Conselho Nacional por inerência) e contra-atacou: “vou continuar no PSD até ao último dia. Não fui que estive no PS e saí. Não fui eu que mudei de embarcação”, lembrando o percurso da anterior presidente de Câmara.

Pedro Gomes (NAU) exortou Pedro Soares a abandonar o executivo e deixar entrar outro elemento dos sociais-democratas dado que “o PSD já não se revê em si”.

“Não sou como alguns que deixaram o seu partido, continuo a ser militante”, devolveu Soares.

Com isso, a agenda da reunião foi rapidamente despachada. Todos os pontos foram aprovados por unanimidade e praticamente sem discussão.

A política ocupa sempre um lugar de destaque no seu jornal Terras do Ave  (veja aqui)

Foto: arquivo

 

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