Rita Oliveira é natural de Vila do Conde, ama a sua terra, o clube que representa – o Ginásio – e é uma karateca atleta de eleição. Tem títulos internacionais e recentemente sagrou-se campeã nacional pela 13.ª vez. Fomos conhecer melhor a atleta que em Portugal não consegue ser profissional e acumula o desporto com a profissão de fisioterapeuta. Esta é a 1.ª parte da entrevista que terá aqui um complemento, mais pessoal, amanhã, 6.ª feira, mas o trabalho está na íntegra na última edição em papel do seu jornal Terras do Ave.
Teve o 1.º contato com o Karaté aos 6 anos, mas fixa-se no Ginásio Clube Vilacondense (GCV) somente aos nove. Como a convenceram?
O meu irmão [João Oliveira] praticava karaté desde os 6 anos e como entre nós há uma diferença considerável de idades [6 anos] passava tempo no ambiente dele – de competição e treino – o que me levou a pensar: ok, também tenho de fazer desporto, que é importante. O meu irmão sempre foi um grande exemplo para mim. E também, claro, o Tozé [Castro Lopes], que era o mestre dele [do irmão].
O ambiente no clube também serviu para solidificar esse gosto?
Sim. Fiz novas amizades ali e nas competições. Incluindo pessoas de outros locais do país. O karate tem tudo o que o desporto proporciona de bom.
E quando percebeu que tinha jeito para a modalidade?
Acho que não sou uma atleta com talento e tudo o que alcancei foi à custa de muito trabalho. As raparigas mais altas têm a tendência para serem um bocadinho mais descoordenadas e, entrando tarde noutro desporto, têm menos agilidade. Mas com trabalho e insistência, meu e dos meus treinadores, fui ganhando capacidade e habilidade. Sou perfeccionista e se alguém me diz que algo não está bem, vou agarrar nisso e melhorar.
Ainda se lembra da primeira vitória?
Não, devia ser muito nova. Mas lembro-me da primeira vez que subi a um pódio num nacional e foi uma alegria.
E sempre no Kumite, a parte de combate e de estratégia. Porquê?
Comecei pelo Kata, a parte das formas, mas não gostava. Mal pude transitei para o Kumite e o facto de combater com alguém, ler o outro, perceber dentro do meu jogo o que posso fazer para vencer, fomentou mais a paixão pelo Karate.
E o Kata?
Gosto de ver, mas não é mesmo para mim.
Dentro da formação, o ponto alto terá sido, em 2019, a conquista da medalha de ouro no europeu de sub 21. Ouvir o hino deve ser arrepiante…
Sim, acho que foi o momento mais emotivo não só da minha carreira desportiva, mas da minha vida. Naquela altura era raro ouvirmos o hino lá fora. Ainda hoje fico sem palavras quando penso nesse momento.
Dois anos antes, em 2017, em Coimbra, já tinha sido campeã europeia universitária..
Também foi especial. Tive o público português a acompanhar e sobretudo muita gente, que me era próxima, a ver. Com os atletas que estavam em prova e o ambiente que se viveu, foi um feito também bastante positivo para mim.
A nível sénior já vai no 13.º título nacional. Não há adversárias ao seu nível?
Infelizmente, o nível em Portugal ainda não está a par do internacional e na minha categoria [+68 kg kumite] nota-se isso. Acredito que nos próximos anos possa aumentar e espero que assim seja também para me ajudar a crescer como atleta.
Está envolvida num circuito mundial WKF, quais as suas perspetivas?
Gostava bastante de chegar à disputa de medalhas. Subir a um pódio seria muito bom [Rita Oliveira ficou no 5.º lugar, na etapa chinesa].
A participação em muitas provas nacionais tem sido feita com outro karateca do GVC, Joaquim Mendes, um atleta de exceção.
Para mim o Joaquim é o melhor atleta nacional neste momento. E é o meu exemplo e apoio. Treinar com ele tem-me ajudado, sem dúvida, a ser melhor.
No Karaté ainda há o amargo de ter sido inserido nos Jogos Olímpicos (em Tóquio) para logo depois ser retirado? Era um sonho estar numas olimpíadas?
Acho que é o sonho de todos os atletas, viver aquela intensidade e ambiente. A retirada acabou por prejudicar todos os karatecas a nível mundial.
Contamos amanhã publicar a 2.ª parte da entrevista a Rita Oliveira.

