A última edição do seu jornal Terras do Ave contém uma entrevista a José Maria Pinho, empresário de Vila do Conde, que foi presidente do Rio Ave na década oitenta do século passado. Nesta 2.ª parte do trabalho (que encontra na íntegra na versão em papel) começamos por abordar precisamente essa ligação ao clube rioavista.
Como é que chega ao topo diretivo do Rio Ave?
Estava a ultimar a minha casa em Canidelo quando apareceu um carro com o José Oliveira, que tinha sido presidente do Vilar de Pinheiro quando eu era presidente de Malta; mais o Júlio Félix, o Fernando Carvalho e o Luís Raposo. Disseram que era preciso tomar conta do clube e comecei por não querer, mas insistiram e lá acabei por aceitar. De 1980 a 1982 fui o presidente adjunto e o José Oliveira, o presidente. Mas ele depois quis ir embora. Aí o Mário Almeida insistiu para que eu fosse o presidente da direção. Aceitei na condição dele ser o presidente da Assembleia Geral. Sempre me entendi bem com o Mário Almeida, embora fossemos de campos políticos diferentes.
Foi presidente do Rio Ave até 1988, ou seja, perfez uma década que muitos consideram de ouro para o clube. Foi à final da taça (13 de maio de 1984), obteve um 5.º lugar, vitória nas Antas, construir o estádio (inaugurado em 13 de outubro 1984). Neste contexto, parece uma injustiça que na mente de algumas pessoas permaneça apenas um episódio em todo o seu um trajeto: a saída do Félix Mourinho por causa do filho, José Mourinho.
O Félix Mourinho foi um bom homem. Quando o convidei, ele nem sequer sabia para onde é que ia treinar, só lhe perguntei se queria treinar uma equipa do Norte que está nos primeiros cinco lugares e ele aceitou. Mas pediu-me para inscrever o filho para ele não andar por aí perdido. Ficou acordado entre nós que ele [José] só jogaria no campeonato das reservas. No dia do jogo com o Sporting fui ao balneário, os jogadores já tinham feito o aquecimento e o filho estava equipado. Eu disse ao Mourinho [pai]: olhe, você tem 10 minutos para mandar desequipar o seu filho e você vai para o banco. Senão mando-o desequipar e você não vai para o banco. No futebol, as decisões têm de ser tomadas na hora e no momento, e foi o que fiz. Nunca mais se falou naquilo e a minha relação com o Mourinho [pai] foi sempre boa até ele morrer. Que esteja em paz.
E como foi o reencontro com o José Mourinho no 40.º aniversário da presença do Rio Ave na final da taça?
Cumprimentamo-nos. Que seja feliz.
E como surgiu o novo estádio?
Todos contribuíram à sua maneira para o novo estádio. Sócios, dirigentes, Câmara, Governo e empresas. O Rio Ave foi avisado que não podia jogar mais no seu antigo estádio [da Avenida] e tinha de fazer um novo e para isso deu em troca aquilo que tinha, o campo onde jogava. Correu bem.
E em termos de resultados também foi um vencedor.
Numa época ficámos em quinto noutra em sexto e por aí. E quando descemos de divisão fizemos 34 jogos sem perder e fomos campeões nacionais.
E depois do Rio Ave continuou ligado ao futebol?
Estive na Federação e depois na UEFA. E enquanto a liga não esteve constituída, as reuniões eram feitas em minha casa
E posteriormente deixou o futebol?
Sim.
Falou-se que podia ir para a direção do FC do Porto.
Só aceitaria na minha vida ser dirigente do Rio Ave ou do Porto. O Pinto da Costa queria, mas entendi que chegara a hora de deixar o futebol.
Mas porquê isso? Acha que o futebol, por algum lado, também queima um pouco?
O futebol de hoje não é pior do que aquilo que era, mas não vale a pena estar aqui a dizer quais as razões. Agora, limito-me a ver alguns jogos
No estádio?
Isso não. Há cerca de dez anos que não vou.
E se o Rio Ave voltar a estar presente numa final da Taça de Portugal?
Não, não.
Nunca mais vai a um estádio?
Nunca se deve dizer nunca…
Concluímos aqui a transcrição de mais uma parte da entrevista a José Maria Pinho (a primeira está aqui), sendo cerro que o trabalho está na íntegra na edição em papel que aina encontra nas bancas.
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