Na edição em papel do seu jornal Terras do Ave publicamos uma entrevista a Francisco Mesquita dentro da rubrica “O que é feito de si?”. Ontem tivemos a oportunidade de colocar aqui um trecho do trabalho (acesso nesta página), uma abordagem mais pessoal, e hoje temos a possibilidade de dar a conhecer uma vertente mais política.
Foi o 1.º primeiro presidente da JSD de Vila do Conde. Como surgiu essa situação?
Na minha família sempre houve uma admiração enorme pelo Dr. Francisco Sá Carneiro [fundador do PSD]. E em 1974, quando o então PPD estava a dar os primeiros passos em Vila do Conde, o saudoso Dr. Orlando Taipa convidou-me para ser o fundador e coordenador da JSD. Foram anos inesquecíveis de entrega e militância. Estive lá os primeiros anos a seguir à Revolução dos Cravos e participei em momentos marcantes da vida do PPD/PSD, designadamente os primeiros congressos do PPD e da JSD, ambos em Lisboa. Até sair, foram anos intensos e de acompanhamento próximo do desenvolvimento da nossa Democracia.
E aparece o PS a sondar…
O Eng. Mário Almeida conhecia-me bem, para além de que alguns amigos meus, entre os quais o falecido José Rodrigues, conhecido por Zé da Vila, e ambos começaram a levar-me a alguns jantares do PS, alegando que o interesse local se sobrepunha à política nacional. E fui ficando. Cheguei mesmo a ser militante, mas já não sou.
O regresso à política mais ativa só sucede nos mandatos de Elisa Ferraz?
Sim. Fiz o 1.º mandato e metade do segundo.
Foi também presidente da Assembleia de Freguesia de Vila do Conde.
Julgo que quatro ou cinco mandatos.
E chegou a apoiar o atual presidente Vítor Costa?
Ainda antes de ser candidato a presidente da Câmara, pediu para vir a minha casa e convidou-me a ajudá-lo. Conhecia-o quando foi vereador. E à família. E convenci-me que, sendo professor universitário, ele poderia abrir um novo ciclo. Ajudei no que pude, em várias circunstâncias e, é bom acentuar, sem ganhar um único cêntimo. Até que, a meio do mandato, comecei a descortinar um tipo de governação virada apenas para o dia a dia, e uma pessoa com uma visão muito estreita na política, sem qualquer estratégia nem políticas verdadeiramente transformadoras e capazes de esbater fortemente as assimetrias existentes no concelho.
Paroquial?
Julgo que é a palavra adequada. O Prof. Doutor Vítor Costa tem uma visão paroquial do modo como exerce o seu cargo político. E só consigo perceber isso pelo excesso de obsessão que tem em ganhar eleições. É alguém que só pensa no imediato e é verdadeiramente frustrante verificar as assimetrias enormes que continuam a existir. Já não só entre a cidade e as freguesias, mas até entre partes da própria cidade. A zona nascente, está completamente abandonada. Formariz, por exemplo, parece que não existe. Não há plano de mobilidade, não temos zonas pedonais, não se fez um metro de ciclovias… São muitas as insuficiências. Tantas como as promessas não cumpridas.
Mas quando colaborou com Vítor Costa esses assuntos estavam previstos?
Falámos sobre muitas das carências e dos passos a dar. O Centro de Saúde das Caxinas [em construção] é praticamente a única coisa nova boa. De resto, os financiamentos para a esquadra da PSP e a habitação foram assegurados pela Dra. Elisa Ferraz. E as obras de freguesias continuam pequenininhas: levanta um muro aqui, alarga um bocadinho a estrada acolá, um ou outro parque infantil, coloca um bocadinho de relva. É mesmo muito pouco. Mais: para além da ponte sobre o rio Este em Touguinha, há o compromisso de fazer uma nova ponte rodoviária sobre o rio Ave ao lado da do Metro. Não se vê absolutamente nada. Mesmo sem garantias de fundos europeus, o eng. Mário Almeida fez a ponte de Retorta e a Dra. Elisa Ferraz a de Arcos. Porque razão o atual Presidente da Câmara não avança com a ponte que prometeu? Talvez alguma poupança em gastos não prioritários ajudasse a resolver este problema.
Nas Caxinas já há obras…
Sim, gosto das Caxinas e reconheço um conjunto de necessidades. Mas o concelho tem de ser gerido como um todo. De modo equitativo. E isso não está a acontecer. Ainda não fiz contas, mas os investimentos previstos para as Caxinas e Poça da Barca gastam uma parte muito significativa da fatia orçamental municipal. É um excesso. Talvez mesmo uma obsessão. Não é que os caxineiros não mereçam, mas o que falta é equilíbrio. Em vez de se criarem condições para haver maior simetria em todo o concelho, está a acontecer precisamente o contrário.
Peço-lhe que em duas ou três frases me diga os primeiros pensamentos que lhes suscitam os nomes das seguintes personalidades: Luísa Maia?
Tenho um apreço muito grande pela Dra. Luísa Maia. É uma vilacondense nascida em Fajozes e que conhece muito bem todo o concelho e as necessidades existentes. Poderá não ser ainda alguém com a notoriedade necessária entre os eleitores, mas é uma mulher séria, trabalhadora, com um alto sentido de responsabilidade e uma grande objetividade, para além da frontalidade e coragem que admiro nos políticos. E nós precisamos na Câmara alguém que seja corajoso, que diga e faça. Não é como aquilo que temos visto, em que se diz muito e se faz muito pouco.
Elisa Ferraz?
É uma pessoa que estimo muito. Nos dias de hoje, as nossas relações são inexistentes, mas isso não me impede de tecer o elogio da pessoa. Sempre a admirei como mulher e como presidente de Câmara, sobretudo até ao período da Covid-19, em que me pareceu não ter sido capaz de lidar com a situação. Não obstante as diferenças que nos separaram a partir de determina altura, a verdade é que, por exemplo, se nos lembramos da redução da dívida, da libertação do PAEL, da redução da taxa do IMI, dos investimentos nas freguesias, e fizermos a comparação dos investimentos em obras nos mandatos dela com o que vemos agora, devo dizer que, se fosse eu o atual presidente de Câmara, ficaria embaraçado. E até envergonhado.
Já fez as pazes com Elisa Ferraz?
Nunca se proporcionou a oportunidade. São coisas que acontecem, mas gostava de reforçar que, sob o ponto de vista pessoal, não tenho nada a dizer dela. Absolutamente nada
Pedro Gomes?
É uma pessoa inteligente, estudiosa e que percebe muito de várias matérias. Se lhe pudesse apontar algum defeito, é a sensação que ele parece ter de que é imprescindível quando não há imprescindíveis. Apesar dos 6 anos que trabalhámos em conjunto, estamos ainda de costas voltadas desde e célebre assembleia do “dedo no ar” que toda a gente comentou por esse país fora e ele escolheu-me como alvo para me mover um processo-crime que acabou arquivado.
Outro nome para pensamento rápido: Ana Luísa Beirão?
É uma amiga de muitos anos. Não foi bem tratada pelo PS e tenho pena. É uma pessoa correta, tem a sua maneira de ser e, para além de tudo, não foi ela que escolheu ir para a Assembleia Municipal. Limitou-se a aceitar o convite que lhe foi endereçado pelo Prof. Doutor Vítor Costa. Não merecia o que lhe fizeram. Foi um episódio profundamente lamentável.
Isaac Braga?
Conheci-o logo no início da sua vida política. Não tem nada a ver com oque é hoje, À medida que os anos foram passando, começou a ficar perdido nos corredores de poder. Acontece a muita gente, que depois relaxa e fala mais do que concretiza. A sua viragem foi uma surpresa para mim e para o meio social das Caxinas, onde, ao contrário do que se pensa, acho que já não tem a força política que já teve.
Vítor Costa?
Uma desilusão. Um presidente com genes políticos surpreendentemente paroquiais.
Estamos a seis meses das eleições autárquicas, o que acha que vai acontecer nesse escrutínio?
Depende de muitas coisas. Mas se Luísa Maia for capaz de demonstrar as diferenças e os virtuosismos da frente eleitoral que está em construção, e as contrastantes diferenças para o tipo de governança do PS de Vítor Costa, estarão reunidas as condições para que os vilacondenses tenham de facto duas alternativas.
E por onde não irá o Francisco Mesquita?
Não vou votar no Prof. Doutor Vítor Costa. Isto é a ponto assente. E há muita gente com quem eu falo que também não. É o tipo de presidente que joga para o momento e para o voto, para quem só conta ganhar eleições. Não é disso que temos necessidade, mas de alguém que veja o todo e não só uma parte. Talvez os vilacondenses concluam que será necessário mudar de liderança. A ver vamos.
Pode ter acesso ao trecho de ontem aqui, mas a versão na íntegra está na edição em papel do seu jornal Terras do Ave.

