Em mais uma rubrica “O que é feito de si” falámos com uma figura bem conhecida de Vila do Conde que passou por diversas instituições políticas e sociais, entidades públicas e privadas e, nos últimos tempos, é seguido nas redes sociais pelas análises que faz ao quotidiano local. Sobretudo em relação a comportamentos políticos que, nesta entrevista, Francisco Mesquita também abordou.
Publicamos agora um primeiro trecho, mas encontra a versão na íntegra na edição em papel do seu jornal Terras do Ave.
Em que ano nasceu e como era composta a sua família?
Em 1953 [10 de outubro] na Rua da Lapa. O meu pai, José, era carteiro do CTT e a minha mãe, Helena, teve duas funções: ajudou o meu avô na alfaiataria e, numa fase posterior, foi guarda da passagem de nível da CP na Lapa. Tenho duas irmãs, a Maria do Sameiro e a Laurentina.
Onde estudou?
Fiz a antiga escola primária na velha escola dos Sininhos, frequentei o Colégio de S. José até ao 5º antigo 5º ano e depois, como não esse grau de ensino havia em Vila do Conde, tive de ir para a Póvoa fazer o curso complementar dos liceus. Seguiu-se a Universidade de Coimbra, em Filologia Germânica, que nunca finalizei, tendo mais tarde mudado para Línguas e Literaturas Modernas-variante de Estudos Portugueses, que é a minha atual licenciatura.
Em 1971 entra para a Mantex, nas Guardeiras (Maia) como correspondente de inglês e alemão?
Como em todo o meu percurso de vida, comecei sempre por baixo. Dado que, na altura, dominava as línguas inglesa e alemã, e a Mantex era uma das maiores fábricas de confeções do norte do País, iniciei a minha atividade profissional como correspondente, o que se traduzia em trabalhar com a administração da empresa em toda a correspondência (e era muita) que envolvia ambas as línguas.
Estava lá quando em 1977 (29 de janeiro) casa na Igreja Matriz.
Sim, casei com a Preciosa num dia com a chuva a espreitar. E acabou por confirmar-se que casamento molhado, casamento abençoado.
Dessa união nasceram as suas filhas.
Primeiro a Catarina, em 1980, e, três anos depois, a Filipa.
Que já fizeram de si avô.
Sim, uma delas tem dois rapazes. E outras duas raparigas. São a minha perdição.
Voltando ao percurso que estávamos a fazer, foi subindo na Mantex e a sua saída acontece quando já era diretor comercial.
Estive na Mantex durante cerca de 20 anos. A determinada altura, fui convidado por uma multinacional espanhola, a Pikolin, para ser o diretor da Delegação Norte. Fiquei lá cerca de 8 anos até ter o meu primeiro enfarte cardíaco. Devem ter entendido que eu não estaria nas mesmas condições das que tinha quando me contrataram, conversámos e saí sem problema nenhum. Ainda constituí uma empresa, mas depois do problema de saúde, entendi que devia pensar numa nova etapa profissional.
E é nessa altura que vai para a Câmara Municipal?
Eu tinha um relacionamento muito forte com o eng. Mário Almeida por causa dos muitos anos de envolvimento no movimento associativo vilacondense e um dia ele propôs-me a entrada na Associação para a Defesa do Artesanato e Património. Concordei e acabei por entrar. Foi então que, em alguns campos, comecei um trabalho frequente com a vereadora da Cultura, Dra. Elisa Ferraz. Em face da experiência que fui acumulando, e tendo aparecido uma oportunidade, concorri ao cargo de técnico superior. E entrei para os quadros da Câmara Municipal. Quando a dra. Elisa Ferraz venceu as eleições, no seu primeiro mandato, nomeou-me para seu adjunto, sendo o outro o atual vereador Dr. Pedro Gomes.
Já com Elisa Ferraz como timoneira da NAU recebe o convite para ser Chefe de Gabinete.
Sim, foi em 2017, depois de me ter recomposto de outro grave problema de saúde, com um muito perigoso aneurisma na aorta que poderia ter sido fatal. Foi um verdadeiro milagre não ter acontecido. Pouco ajudei na campanha, por causa da recuperação, e só apareci já mesmo perto das eleições.
Este ano de 2025 tem, como já chamou a atenção, diversos motivos de curiosidade. Por exemplo, o CCO vai fazer 120 anos, uma instituição que lhe diz muito…
O Círculo Católico de Operários ocupou a esmagadora parte da minha vida associativa. Estive cerca de 42 ou 43 anos ininterruptos e fui presidente e secretário, da direção e da assembleia geral, ator, apresentador, enfim…fui tudo. Era a minha vida, gostava muito daquilo. Tudo tem um fim. E, um dia, tomei a decisão de sair.
Mas 2025 será também para os 180 anos do nascimento e os 125 da morte de Eça de Queirós. É um acérrimo defensor de que o escritor tem a naturalidade vilacondense e inclusive escreveu um livro, lançado em 2013, que considera essa uma questão inaliável. Pergunto: o município tem feito o suficiente para se assumir como a terra de Eça?
Não, infelizmente não. E é uma coisa incompreensível, que me mete uma grande confusão, dada a dimensão universal de Eça de Queiroz. Como é que uma terra de cultura, de poetas, de pintores, como é que as autoridades de Vila do Conde parecem ter medo de pegar num tema que devia ser um motivo de orgulho para todos nós? Devia ser uma causa do município. Ele é natural de Vila do Conde, aqui foi batizado e aqui cresceu até aos 5 anos e meio. Está tudo provado em documentos escritos. Alguns até escritos pela mão dele, mas há vários outros. Já escrevi um livro sobre este assunto. Podem consultá-lo. Está lá tudo.
Outra das suas conhecidas paixões é o Rio Ave FC, sendo o sócio nº55. Ficou desapontado com a criação de uma SAD (Sociedade Anónima Desportiva) para mandar na parte profissional?
Estou desiludido com os diretores do Rio Ave que, após uma inusitada inscrição massiva de novos sócios, levaram a uma decisão que prejudica gravemente a essência do clube. A SAD provavelmente teria de existir, mas noutros moldes, mais favoráveis ao clube e aos seus associados. Não foi isso que aconteceu, infelizmente. Acho que não vai demorar muito tempo até que os 80 % do senhor Marinakis, com os novos investimentos previstos, passem a 95% do capital. E o Rio Ave fique com uns residuais 5%, que é o mínimo que a lei impõe. E isto, para sócios como eu, é verdadeiramente uma dor de alma.
Esta é a 1.ª parte de uma entrevista que terá uma outra vertente, mais política e porventura mais polémica, no dia de amanhã. Pelo menos, assim contamos.
Nunca deixando de referir que o trabalho está na íntegra na última edição em papel do seu jornal Terras do Ave (veja 1.ª página aqui)

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