Raulino Silva é um dos mais prestigiados arquitetos de Vila do Conde até porque o seu trabalho tem sido reconhecido em vários pontos do mundo com a conquista de prémios ao longo dos últimos anos.
Com esta entrevista (está na íntegra na edição em papel) quisemos saber mais sobre este profissional que vai deixando a sua marca pelo território, mas também conhecer a sua visão sobre a evolução do município. E neste aspeto aponta o que é mais premente de ser feito. E corrigido.
Conte-nos um pouco de si até chegar a arquiteto.
Eu sempre vivi em Vila do Conde, no ensino primário estudei na antiga escola primária de Bagunte, do 5º ano até 12º ano estudei na cidade de Vila do Conde, primeiro na escola Frei João e depois na escola José Régio. Nesta durante 3 anos na vertente de artes visuais, aqui tive uma primeira abordagem ao ensino artístico, nomeadamente à pintura, à fotografia e ao desenho livre e geométrico O ensino artístico no secundário levou-me a escolher o curso de arquitectura na cidade do Porto. Em 2011, abri o meu próprio atelier de arquitetura em Vila do Conde e desde então tenho realizado vários projetos e obras em várias cidades do Grande Porto.
Na sua família há mais pessoas ligadas à profissão ou às artes?
Não, na minha família, ninguém estava ligado às artes, à arquitetura ou à construção.
Escolheu o Porto para a sua formação universitária por alguma coisa especial já que é conhecida a qualidade do ensino portuense da arquitetura?
A cidade do Porto é muito interessante pela sua cultura e pela arquitetura, foi para mim muito enriquecedor a vivência da cidade. Durante o curso de arquitectura, a cidade acolheu a Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura e o Euro 2004.
Terminado o curso, trabalhou em algum(n)s gabinete(s)?
No último ano do curso de arquitetura, um dos meus professores de projeto, convidou-me para trabalhar no seu atelier de arquitetura na cidade do Porto. Apenas deixei os atelieres do Porto, por causa da encomenda de alguns projetos de habitações unifamiliares, que me levaram a dedicar-me a tempo interior à minha arquitetura e a abrir o atelier.
Porque é que escolheu Vila do Conde e, mais, porquê Bagunte?
O atelier de arquitetura em Bagunte encontra-se instalado há quase catorze anos, na casa dos meus avós paternos. A pequena casa com cerca de noventa anos, na altura estava vazia, com a partida da minha avó, e foi aproveitada para acolher o meu atelier.
Quantos colaboradores tem nesta altura no seu atelier?
O atelier neste momento, tem quatro colaboradores que são arquitetos, e trabalha em parceria com escritórios de engenharia. No entanto, por vezes recebemos arquitetos estrangeiros no programa Erasmus, sobretudo italianos que gostam imenso da arquitetura portuguesa.
Ainda com poucos anos de profissão começou a receber várias distinções internacionais, inclusive uma destinada aos arquitetos europeus com menos de 40 anos. Como é que lidou com esses reconhecimentos?
Os prémios e os reconhecimentos internacionais que o trabalho do atelier tem recebido, por causa da obra construída, são muito importantes e reconhecem a boa arquitetura que procuramos fazer. O atelier tem sido convidado para apresentar o seu trabalho em vários eventos, em revistas e livros de arquitetura. O ano passado fui orador em duas conferências, no Museu da Arte Nova em Aveiro, no ciclo “Novas Casas Novas”, iniciativa da Capital Portuguesa da Cultura 2024, e no Dubai, na conferência 2A ArchTalk, organizada pela 2A Magazine dos Emirado Árabes Unidos.
O seu trabalho é mais profícuo em relação a locais para habitação. Por algum motivo?
Não existe nenhum motivo pela temática dos projetos habitacionais. O tema mais recorrente no atelier tem sido a habitação unifamiliar, no entanto nos últimos anos temos realizado vários conjuntos de habitação coletiva (apartamentos), também fazemos outro tipo de projetos de arquitetura e de remodelação de interiores.
Concorda que o seu trabalho do hotel canino e felino em Parada, até por ser de alguma forma disruptivo em relação ao tipo de intervenção usual para aquela função, foi um dos que mais terão projetado a sua carreira, até mediaticamente?
O hotel canino e felino em Parada é um projeto diferente de todos os outros, pelo programa e pela dimensão. No entanto, outros tiveram a mesma importância como a Casa de Touguinhó II, a Casa Touguinhó III, a Casa de Aldoar e agora o edifício de Habitação Coletiva em Vila do Conde.
É também por aquela altura, em concreto em 2019, que recebe uma medalha de mérito município. O que sentiu?
O atelier tem ganho imensos prémios e reconhecimentos sobretudo no estrangeiro, e foi uma grande honra receber a medalha de mérito da cidade de Vila do Conde. Não estava à espera, porque em Portugal valoriza-se pouco a arquitetura.
Os prémios continuaram distinguindo o seu traço para habitações em vários locais como Barcelos (Galegos), no Porto (Aldoar), em Vila Nova de Gaia (Pedroso) e, mais recentemente, um imóvel de habitação coletiva situada aqui mesmo em Vila do Conde. Quer descrever aos nossos leitores qual foi a sua intenção ao coser a modernidade com a ambiente local?
A intervenção no gaveto da rua Comendador António Fernandes da Costa, com a rua Conde D. Mendo, no centro da cidade de Vila do Conde, tem como programa a construção de uma habitação unifamiliar e de um edifício de habitação coletiva para arrendamento com dois apartamentos e uma loja para comércio ou serviços. O projeto procurou uma adequada relação com a envolvente construída, valorizando os muros de granito típicos da região que a cidade de Vila do Conde ainda preserva em várias ruas. Logo desde o início do projeto, foi intenção deixar as alminhas de S. José intocáveis nos muros de granito do gaveto onde se encontram os dois arruamentos. Achamos que este elemento é único na cidade e deve permanecer, como referência à identidade coletiva do lugar.
Esta é a 1.ª parte de uma entrevista que terá um segundo trecho em breve, mas a entrevista está na íntegra na edição em papel do seu jornal Terras do Ave.

Casa Touguinhó III – foto João Morgado

Hotel Canino. Foto: João Morgado
V.-Conde. Foto: Santos-Diez
