Serão os jovens donos do seu destino? Interrogação com que me debato nesta minha juventude, quando olho para trás e recordo interessantes debates e dilemas intrínsecos que tivera aquando da escolha do meu futuro académico e profissional.
Quem de nós não se recorda do que respondíamos quando nos questionavam “Então, o que é que vais ser quando fores grande?” A resposta à época era absoluta. Era como nos sentíssemos donos do futuro, sem incertezas ou recuos.
A verdade é que aos dias de hoje, provavelmente, nem um terço destes sonhadores seguiram em frente com as suas pretensões. Claro, alguns deles por incapacidade de escolha, outros por manifesta mudança de opinião, mas muitos deles, na sua larga maioria, acomodaram-se ao típico mote do “Meu filho, tira uma licenciatura porque assim vais ganhar muito dinheiro.” Ora, engane-se porventura, quem pense que, aos dias de hoje, este mote seja verdade! De facto, é consensual que seguir em frente com os estudos, é uma ferramenta fundamental para o enriquecer intelectual, social e crítico de uma sociedade trazendo como é inerente benefícios económicos e estruturais no seu todo.
Não desconsidero tal verdade, mas parece-me a mim, que ao longo destes últimos 20 anos andamos a incutir um pensamento societário focado apenas e só numa premissa sagrada de que: um jovem apenas terá sucesso se obtiver uma licenciatura! Pois bem, talvez duas décadas chegaram para perceber que esta ideia rapidamente virou “moda” e acabou, infelizmente, por destronar a procura e adesão dos jovens a profissões que sempre foram vistas como “banais” e sem necessidade de obtenção de uma licenciatura. Hoje, esses mesmos trabalhos ditos “banais” são pagos a preço de OURO! Na verdade, não existe quem os faça. E quem os faz exige reconhecimento por tal ousadia. É caso para dizer que esta forma de pensar levou à condenação de uma sociedade que apenas se limitou a ver números em vez de criar estratégias sobre esta matéria para o futuro.
Soluções?
Bom, na realidade até existem! Mas não são usadas nem incentivadas de forma correta! Poderíamos passar pela desbanalização dos cursos profissionais, promover aos jovens desde tenra idade o acesso a estas carreiras e acima de tudo criar políticas de incentivo e valorização para que estes se sintam seduzidos em se quererem profissionalizar nestas quase inexistentes profissões. Acredito que se conseguirmos ultrapassar esta “moda” da quase imperatividade comunitária de instigar os jovens à obtenção de uma licenciatura, muitos deles deixarão de ter tanta pressão sobre si, por sua vez terão mais capacidade de autodeterminação e trarão mais benefícios a Portugal.
Posto isto, finalizo da mesma forma que comecei.
Serão os jovens donos do seu destino?
Fica a reflexão.
Este artigo integra a última edição em papel do seu jornal Terras do Ave (veja os assuntos da 1.ª página aqui).
Outros autores: Romeu Cunha Reis, Miguel Torres, Carlos Real, João Paulo Meneses e Elizabeth Real de Oliveira.

