O seguinte texto faz parte de uma reportagem publicada na última edição em papel do seu jornal Terras do Ave que ainda encontra nas bancas.

Dois médicos oftalmologistas de Vila do Conde, Luís Oliveira (na imagem à esquerda) e Miguel Mesquita Neves (à direita), entraram na história da ciência em Portugal, e particularmente da medicina, ao integrarem a equipa cirúrgica que, em 12 de junho passado, fez o primeiro transplante de uma córnea oriunda do novo “Banco de Córneas de Cultura” (BCC), criado no Centro Hospitalar Universitário de Santo António (CHUdSA).

“A inexistência de um Banco de Cultura era uma falha que tínhamos no país e naturalmente que é motivo de orgulho muito grande, depois de tanta dedicação e luta”, confessou ao Terras do Ave Luís Oliveira que passou as últimas décadas a defender a necessidade de Portugal possuir um BCC.

O problema estava, de facto, identificado há anos, mas emperrava na tutela e nas peias burocráticas. Ora, cansado de aguardar, o coordenador do Programa de Transplante de Córnea do CHUdSA, decidiu, há cerca de dois anos, dar fôlego à ideia de fazer o banco ali mesmo no Hospital de Santo António, contando para esse desiderato com a mobilização da equipa da córnea desse hospital, onde está o seu conterrâneo Miguel Mesquita Neves e outro médico, Miguel Gomes. Foi esse trio, aliás, que concretizou a cirurgia marcante em junho. Decisivo também foi o apoio do diretor de serviço, Pedro Menéres.

“Depois de tanto trabalho, num processo que se iniciou há dois anos, sinto obviamente a satisfação por fazer parte dessa equipa”, sublinhou Miguel Mesquita Neves que releva o “grande impacto” que a oferta agora disponível poderá ter na resolução mais rápida dos problemas de visão dos doentes que, nalguns casos, estão há dois anos à espera de um transplante.

A córnea é a “lente” (como numa máquina fotográfica) transparente que está na parte da frente do olho, sem vasos sanguíneos, e por onde a luz entra. As alterações da forma (patologia denominada ceratocone), da transparência, das suas células endoteliais podem afetar gravemente o olho, daí que seja uma parte ocular fundamental para uma boa qualidade de visão.

Até à criação do BCC no CHUdSA, as córneas a transplantar eram conservadas no hospital através de refrigeração e a sua utilização teria de ocorrer num prazo máximo de 14 dias, afastando alguns potenciais dadores válidos. Por exemplo, eram retirados da equação os tecidos provenientes de vítimas de sepsis (infeções generalizadas) dado não ser possível aferir, num espaço de tempo tão curto (imposto pelo método a frio), se havia risco de arrastamento da maleita para o olho a tratar.

Agora, com o recurso à cultura (em estufa) das córneas, cresceu o espaço temporal para serem realizadas análises detalhadas que permitem aferir se esse risco tem ou não fundamento. Em caso negativo, a utilização é possível e, consequentemente, cresce o volume de córneas disponíveis.

Há também uma outra perspetiva positiva e com forte impacto na população: a redução das listas de esperas para cirurgia. Ao permitir praticamente duplicar o tempo útil de cada córnea, o banco concede aos médicos uma gestão mais eficaz das agendas (programação) dos blocos operatórios, com ganhos na produtividade e no número de intervenções.

Neste momento, no CHUdSA está em curso um processo de afinação interna à nova realidade para que o mais tardar no início do próximo ano o processo de transplantação, enriquecido com as virtualidades do BCC, já possa estar na desejada “velocidade cruzeiro”, alargando horizontes aos utentes que precisem.

(…)

Pode ler o resto da reportagem na edição em papel do seu jornal Terras do Ave

 

Array