O balanço de Catarina Monteiro no adeus à alta competição:  “Consegui ir além dos resultados”

A vilacondense Catarina Monteiro concretizou nos campeonatos nacionais o abandono da competição de natação de alto rendimento. Aos 30 anos de idade (faz 31 a 14 de agosto), despede-se desse patamar maior do desporto competitivo uma atleta que, ao longo de 17 anos de carreira, tantas alegrias deu a Vila do Conde. A múltipla campeã nacional, finalista em campeonatos da Europa e do Mundo e participante em Jogos Olímpicos conta-nos, em entrevista (publicada na íntegra na edição em papel), como viveu esse momento de transição e o que pensa fazer no futuro próximo.

 

Porque é que decidiu abandonar agora a competição de alto rendimento?

Era algo que já estava mais ou menos pré-definido desde os Jogos Olímpicos de Tóquio. Decidi que queria tentar mais um ciclo olímpico, mas, seria esse o meu compromisso com alto rendimento. E foi isso que aconteceu: a seguir à competição em Roma, que foi quando terminou o período de apuramento olímpico, mudei logo o “chip”. Passei a fazer treinos de manhã antes de ir trabalhar e já fui ao [campeonato]nacional sem qualquer objetivo de resultados. Não entrei para competir, mas só para nadar e desfrutar.

(…)

E nessa retrospetiva o que mais apreciou?

Quando fui à primeira seleção nacional e fiz as minhas primeiras conquistas, estava longe de imaginar que podia ser a primeira atleta feminina a chegar a uma meia-final nos Jogos Olímpicos, que podia ter o melhor resultado da história da natação portuguesa –  que felizmente já foi ultrapassada no Campeonato de Europa [Camila Rebela ganhou o ouro nos 200 metros costas], ter estado representada em todas as competições internacionais, tudo isso são feitos que, confesso, que não imaginaria serem possíveis…

Não esquecendo o recorde nacional…

Sim, sou recordista nacional [200 metros mariposa]. Quando bati pela primeira vez o recorde nacional, ele já tinha 10 anos e era da Sara Oliveira que foi uma das grandes figuras da natação portuguesa. E até isso nunca imaginava que fosse possível. Mas fui conquistando as coisas de forma gradual e agora sinto que o que retiro mais de positivo é a forma como conseguir ir além dos resultados, como me dei às pessoas e a interação que procurei sempre ter com os outros. Mais do que os resultados as pessoas valorizaram a minha forma de estar no desporto e isso para mim isso foi a grande vitória.

E o que menos gostou?

Nestes 17 anos a primeira vez que genuinamente disse, não dá mais, foi em março passado, depois do Campeonato Nacional e não ter conseguido fazer o mínimo para o Campeonato Europeu de Piscina Longa, que era algo que achava ser um dado adquirido. Mas já só estava a três meses de terminar o que estava planeado. Agora, muitas vezes o mais difícil com que tive de lidar foram as minhas próprias expectativas e a dificuldade que, a certa altura, tinha de transferir para a competição aquilo que fazia no treino.  Sempre gostei muito de treinar e conseguia uma superação no treino que, em prova, não acontecia tantas vezes. Tinha a sensação que estava a fazer as coisas bem, mas depois não as conseguia pôr em prática.

Mas, certamente, a fase de apuramento para os jogos de 2016 não deixou uma boa memória… 

Acho que um dos meus momentos mais desafiantes foi, de facto, quando falhei os Jogos do Rio em 2016. E estive até o último momento a pensar que estaria apurada e acabei por não acontecer. Acho que, sim, esse foi um dos momentos mais difíceis e duros da minha carreira. Foram Jogos Olímpicos que não consegui ver. Mas mesmo assim encerrei esse capítulo, fiz uma cirurgia ao ombro, que estava já planeada, e comecei tudo de novo.

E agora, como pensa conduzir a sua vida?

No presente, o meu grande objetivo é direcionar todo o meu foco para o trabalho na Câmara Municipal [é vereadora com os pelouros da Defesa do Consumidor, Juventude e Relações Internacionais]. O meu grande receio com o final da carreira era não conseguir ter algo que me desafiasse tanto como me desafiou a natação, mas neste momento vivo algo que é realmente muito desafiante e que estou a agarrar com vontade. A grande diferença é que na natação respondia em termo próprio, se falhasse o erro era só o meu, aqui [na autarquia] trabalho com as pessoas e para as pessoas.  E estou a gostar muito daquilo que faço.

E o curso que tirou?

Sou licenciada em bioengenharia, mas ao longo do curso fui percebendo que a questão da investigação não era para mim, não era a minha praia. No final do ano passado tive a oportunidade de fazer uma candidatura, com uma bolsa por ser atleta olímpica, a um curso “on-line” de Gestão de Desporto da Universidade Católica de Múrcia, mas tive de adiar porque o início era em fevereiro, o que era de todo impossível para mim. Tinha começado a trabalhar e tinha ainda a carga de estar ainda a tentar a qualificação para os Jogos Olímpicos. O curso reabre em outubro ou fevereiro e vou ingressar porque a gestão desportiva é algo que me motiva muito.

Este é apenas um excerto da entrevista a Catarina Monteiro publicada na última edição do jornal Terras do Ave que encontra nas bancas.

 

Array