O sistema democrático gerado da Revolução dos Cravos herdou muitos vícios do regime ditatorial deposto que deveria combater, mas à medida que o tempo foi passando, aumentou as suas mordomias e tornou-se cada vez mais permissivo e um dos principais espinhos estão na falta de responsabilização criminal dos políticos pelos atos lesivos dos interesses e direitos da maioria do povo português, que cometem impunemente.

Políticos cada vez mais reféns dos mega grupos económico-financeiros, são eles que governam, que ditam as políticas públicas, eles é que são os donos disto tudo, com lucros trimestrais de milhões e o povo a contar os tostões para comprar pão.

Grupos que foram por sua vez “alimentados” pelas parcerias público/privadas e privatizações em série promovidas pelo poder político, sendo Sócrates e o seu ministro Teixeira dos Santos os campeões destas negociatas, que “engordam” os capitalistas e empobrecem o resto da população, o que nos conduz ao envidamento progressivo, que “come” só para os juros, a maior parte do PIB nacional, a que se junta as denominadas “portas giratórias”, saem do Governo e vão diretamente para cargos de topo das empresas que favoreceram, a que se adicionam a promiscuidade, o compadrio e a corrupção, favorecidos por um conjunto de fatores, entre os quais, por falta de fiscalização e de auditorias verdadeiramente independentes e por um sistema de justiça anquilosado, com falta de eficiência, com mega processos sem fim à vista e que só favorecem e incentivam os prevaricadores, protegidos pelas leis que fizeram à sua medida. E face a todos estes espinhos, o ceticismo relativo à participação política cresce, assim como cresce o populismo, como a memória dos povos é curta e não se valoriza como se devia a história nacional, a direita fascista ganha cada vez mais votos.

A democracia está em perigo, só não o vê quem não quer ver.

Publicado no jornal a 29 de maio. Outras opiniões: Abel Maia, Gualter Sarmento, João Paulo Meneses e Sara Padre.

 

 

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