Foi em Vila do Conde que Pedro Ferreira deu os primeiros saltos nos trampolins e foi por cá também, na cidade que diz apreciar, que concedeu a entrevista ao Terras do Ave que está na edição ainda nas bancas e da qual publicamos alguns excertos.
Não foi fácil acertar uma data para a conversa porque o recente campeão europeu, atleta do Sporting, divide a sua vida por a Lisboa da profissão, o Algarve da paixão e a Vila do Conde do coração. E será à princesa do Ave que pensa voltar quando um dia se retirar do desporto.
Quando começou a praticar ginástica de trampolins? E porquê esta modalidade?
O meu pai é treinador de ginástica acrobática aqui em Vila do Conde e a minha mãe também esteve bastante ligada ao Ginásio Clube Vilacondense. Eu ia para os treinos com o meu pai e comecei pelas classes de iniciação da ginástica normal. Ele nem fazia muita questão que eu fosse para uma modalidade de ginástica de competição acrobática ou trampolins, mas também não era propriamente contra. Eu tinha um amigo que já fazia trampolins há alguns anos e decidi experimentar uma aula com ele. Gostei e acabei por continuar.
Como foi o seu percurso até agora?
Comecei com oito anos no Ginásio [Clube Vilacondense]. Não fazia competições, mas já estava na classe de competição. E penso que com 11, 12 anos apurei-me para o meu primeiro campeonato do mundo por idades, que foi na Rússia em 2009. A partir daí, todos os anos fui aos campeonatos e fiz sempre parte da seleção. Fui também ao campeonato da Europa de juniores em 2012 e em 2014 onde consegui a primeira medalha portuguesa de júnior masculina e com ela o apuramento para os Jogos Olímpicos da Juventude, que também foram nesse mesmo ano.
Um ano para nunca mais esquecer…
Foi o mais marcante da minha carreira, porque ganhei as primeiras medalhas em trampolim individual. Fui aos Jogos Olímpicos da Juventude e fiz ao meu primeiro campeonato do mundo de seniores. Esse também foi o meu último ano em Vila do Conde antes de ir estudar para Lisboa.
Porquê Lisboa?
Quero Engenharia Aeroespacial e esse curso só existe lá. Há vários clubes na capital, mas já tinha bastantes amigos no Sporting e desde então que estou lá.
Como conciliou o desporto com os estudos?
Foi muito complicado. No início foi difícil, porque tentei não deixar nenhuma cadeira para trás e fazer tudo bem nos trampolins. Mas as coisas entraram um bocado em conflito e pioraram nos primeiros meses. Vinha cansado para o treino e ficava um bocado perdido nos saltos, o que é perigoso nesta modalidade. Por isso, chegou uma altura na minha vida que assumi que gosto de fazer trampolins e é essa a minha prioridade. Aliás, é a minha profissão neste momento. A faculdade vai ser um extra, porque eu quero ter uma vida depois dos trampolins, quero ter um plano B.
E a sua família sempre o apoiou?
Sim, eu tenho uns pais espetaculares. Eles apoiaram-me sempre em tudo.
Costuma vir a casa com frequência?
Sim, e por acaso tenho imensos colegas que até nem fazem desporto, só estudam, e têm uma vida muito mais “folgada” do que a minha. Passam meses sem ir a casa, ficam em Lisboa para sair com os amigos. Eu sempre que tenho um fim de semana livre venho a casa. Gosto muito de Vila do Conde, gosto muito dos meus pais e do meu treinador com quem, felizmente, ainda mantenho contacto. Custou-me muito deixá-lo, aos meus colegas de treino e, especialmente, os meus pais.
Como se sentiu quando se sagrou campeão europeu?
Foi uma mistura de sentimentos. Entre os Jogos Olímpicos de 2020, que foram em 2021 por causa da Covid-19, e os de 2024, passaram apenas 3 anos, ou seja, não houve aquele ano de descanso para descomprimir. Sinto que estou em apuramento olímpico há sete anos. No início de 2023, tive uma lesão bastante grave no pé, e pensei que não ia fazer o apuramento. Mas fiz o melhor da história portuguesa e consegui lugar para Portugal [a vaga será ocupada por Gabriel Albuquerque que terminou a Taça do mundo em sexto e Pedro Ferreira foi o sétimo]. Por isso, se me dissessem, quando rebentei o pé, que ia ser campeão da Europa, não acreditava. Mas é fantástico, é uma sensação incrível de que já cumpri aquilo que sentia que queria cumprir.
Sentiu-se acarinhado pelos vilacondenses após essa conquista?
Sim, sem dúvida. Eu já não uso muito o Facebook, mas o meu pai disse-me que na página da Câmara a publicação sobre este título teve seis mil likes e 500 partilhas. Foi engraçado, porque isso mostra que as pessoas também sentiram esta conquista. Senti que ficaram contentes por mim e fiquei muito feliz.
Pode ler o resto da entrevista na edição em papel do seu jornal Terras do Ave e na qual Pedro Ferreira é claro sobre o seu futuro após o final da carreira: “Gostava muito de voltar para Vila do Conde”
Array

