É sobre os ombros da Capitão do Porto e Comandante-local da Polícia Marítima de Vila do Conde e Póvoa de Varzim que recai grande parte da responsabilidade da fiscalização e promoção da segurança na época balnear que, no Norte, começa no dia 15.

Em entrevista que encontra publicada na íntegra na edição em papel, a oficial (Capitão-de-Fragata) explica o que está previsto para as praias locais, quais os cuidados a ter e quais os pontos que mais a preocupam.

Aqui vai um excerto  

A época balnear no Norte e particularmente em Vila do Conde vai começar no próximo dia 15. Está tudo pronto?

Em termos de disponibilidade de nadadores-salvadores, existe alguma preocupação para a primeira semana porque o início da época balnear, 15 de junho, coincide com o final dos exames dos estudantes universitários, e como é do conhecimento comum, muitos dos nadadores-salvadores são estudantes. Poderemos ter de fazer alguns ajustes, mas isso já está foi discutido com a Associação de Nadadores-Salvadores “Os Golfinhos” que presta o serviço.

 

Reajustes em que sentido?

 Há Planos Integrados (PI) de Salvamento que são discutidos com as associações dos concessionários e dos nadadores-salvadores. É com base nesses planos que se fazem, por exemplo, a montagem dos postos de praia e a distribuição dos nadadores-salvadores tendo em conta também toda a estatística que existe sobre incidentes ocorridos em anos anteriores. Se não houvesse um Plano Integrado, teriam de estar dois nadadores-salvadores e um posto de praia por cada 100 metros de praia vigiadas. Ora, como é conhecimento geral, a nível de todo o país não há nadadores-salvadores para essa circunstância e o normativo permite que haja uma redução no efetivo, mas com um complemento, ou seja, incrementando meios complementares

 

Por exemplo em Vila do Conde…

Temos dois Planos Integrados (PI). Um para toda a Frente Urbana, que vai desde a Prainha até à Senhora da Guia, que contempla um meio complementar de salvamento, uma moto de água. E um segundo PI que vai desde a Azurara até Labruje, com duas motos-quatro. Em cada meio complementar está um nadador-salvador coordenador do PI que pode ativar outros meios como a carrinha da Associação Nadadores-Salvadores e Os Golfinhos, que tem uma assistência médica diferenciada, nomeadamente com enfermeiro e com equipamentos médicos, e que está a operar em toda a área de Vila do Conde e Póvoa. Temos ainda a vigilância motorizada que é disponibilizada pela Autoridade Marítima Nacional e que, na área de Vila do Conde, é composta por uma carrinha com dois militares da Marinha que têm formação em viaturas de todo-o-terreno e nadadores-salvadores também. Há ainda um militar da Marinha apeado, mais dedicado à parte urbana, que vai circulando pelas praias contactando com o público em geral e alertando para comportamentos menos corretos.

 

E há os meios que já operam no resto do ano…

Sim, a Estação Salva-vidas, que tem os seus meios sempre em prontidão imediata no seu horário de funcionamento, das 11h às 19h, e fora desse horário estão à chamada e são ativados sempre que eu considerar necessário.

 

Na portaria sobre a vigilância em Vila do Conde aparecem vinte e uma praias de banhos…

Mas temos mais três que embora não sejam consideradas praias de banhos, vão ter também vigilância: Prainha, o Senhor dos Navegantes e Azurara.

 

Porquê?

São praias que já têm um concessionário e bastante afluência. Não são praias de banho porque a qualidade da água ainda não tem sido a suficiente.

 

Com a afluência que tem, Azurara deve ser das que mais a inquieta…

Sinceramente, é o sítio que mais preocupa no concelho de Vila do Conde. Tem, de facto, uma afluência muito, muito grande. E há ali também alguma atividade de desportos náuticos que é muito apelativa. É a praia que, estatisticamente, tem mais ocorrências. Depois, por diferentes motivos também merecem atenção a Frente Urbana pela

concentração de pessoas e a área sul do concelho, entre Árvore e Labruge, devido à distância entre praias que pode dificultar a chegada de meios rapidamente a um local.

 

A estação do Instituto de Socorros a náufragos junto à capela da Senhora da Guia está a funcionar?

 Não, a Estação Salva-Vidas de Vila do Conde está desativada embora tenha meios no seu interior, nomeadamente uma mota de água sempre pronta para ocorrer uma situação dentro do rio Ave, mas os meios estão todos concentrados na Estação Salva-Vidas dentro do porto da Póvoa de Varzim. É um ponto central para conseguir chegar quer à área norte da Póvoa e à parte mais a sul de Vila do Conde. E por mar chegamos mais rapidamente, não faz qualquer sentido estar a distribuir meios.

 

Quais são os principais conselhos que dá às pessoas pensam ir à praia?

Que frequentem praias vigiadas. Este é o mais importante de todos. Se estamos a implementar PI, com meios de salvamento em praias que foram definidas por portaria para serem de banhos, com água com uma boa qualidade – e que está constantemente a ser monitorizada – são esses os locais ideais para ir ao banho. Quem vai a uma praia porque tem menos pessoas, mas sem nadador-salvador, automaticamente está a colocar-se em risco. E existe um grande perigo em Vila do Conde: os agueiros.

 

Quantos agueiros já foram identificados?

Eles variam…hoje podemos ter cinco, seis, amanhã podemos ter dez, no dia a seguir podemos não ter nenhum. Variam consoante o estado do mar, a direção do vento e as areias que estão em constante movimentação. Há sítios que, naturalmente, têm uma apetência maior para criar agueiros e quando definimos, no PI, onde vamos colocar o posto de praia e a zona de banhos temos em conta isso. Mas é o nadador-salvador que está no diariamente local que define o local mais seguro.

 

Com bandeiras…

Sim, as amarelas e laranjas que são colocadas na areia.

 

Há forma de um leigo conseguir descobrir um agueiro?

A melhor forma é ver na Internet os vídeos que mostram claramente como é que numa praia se deteta um agueiro, mas é preciso ter a noção disto: um agueiro cria uma zona de maior acalmia junto à arrebentação, o que pode tentar as pessoas a encaminharem as crianças para aquele local quando, na realidade, é o local de maior perigo.

 

E há mais conselhos?

Não nadar para longe e vigiar permanentemente as crianças. É muito fácil e extremamente rápido uma criança ser levada por uma onda e ninguém se aperceber, principalmente quando as condições de mar não são as melhores. Depois há que ter em atenção e não entrar em água fria durante o período de digestão por causa do choque térmico que pode parar a digestão ou mesmo provocar uma síncope cardíaca fatal. Na nossa zona, com águas frias, alertar para isto faz todo o sentido. Deve-se igualmente evitar as alturas de maior exposição solar por causa das insolações e não estar muito tempo ao sol.

 

E se algo correr mal?

Ligar imediatamente para o 112 ou para a Polícia Marítima ou para a Associação Nadadores-Salvadores dos Golfinhos. É muito importante que a informação do que está a acontecer chegue rapidamente, para ativar-se os meios adequados. O tempo é o fator mais importante para conseguirmos ter sucesso. E por vezes as pessoas descansam, pensando que outras já deram o alerta quando, na verdade, ninguém ainda avisou.

 

E a diversão noturna, também que lhe inspira cuidados?

Sim, obviamente que preocupa. Em Vila do Conde e na Póvoa de Varzim, temos muita atividade em termos de eventos noturnos em área de mínimo público marítimo – até nas festas populares – e Apoios de Praia e estabelecimentos de diversão noturna a funcionar até tarde. Lanço, por aqui, um conselho: quando estiverem mais alegres ou a festejar qualquer coisa, não brinquem com o mar. O mar é muito perigoso à noite. E nunca se esqueçam que à noite o dispositivo da manhã e tarde não existe.

 

 

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