Opinião de Adelina Piloto

Eis que apagadas as velas do 50.º aniversário da Revolução do 25 de Abril de 1974, questiono-me neste artigo sobre as portas que abril abriu, sobre a herança de abril viva e atuante nos últimos 50 anos e a resposta surge-me de forma nítida: foram 50 anos de boca destapada sem medo de represálias, foram 50 anos a respirar liberdade, entre elas, a de expressão e de opinião, dentro do respeito pela pluralidade de pensamento, porque ninguém é dono da verdade absoluta. Foi meio século de educação universal e gratuita e considero esta uma das mais valiosas conquistas de abril, este direito assegura a igualdade de oportunidades, um livro, uma caneta e um professor podem mudar o mundo, porque são fatores agregadores da criatividade humana e da inteligência coletiva. Em 1960, 32,5% dos portugueses eram analfabetos. Foram 5 décadas de paz, o 25 de abril pôs fim à terrível guerra colonial, que martirizava a sociedade portuguesa desde 1961, em julho de 1974, o Conselho da Revolução reconheceu às colónias o direito à independência. Outra das conquistas de Abril, é a realização de eleições livres, porque a elas podem concorrer vários partidos políticos ou grupos de independentes, sendo o ato eleitoral fiscalizado para não haver fraudes e todas as pessoas (homens e mulheres) com mais de 18 anos podem votar. Nas primeiras eleições livres, ocorridas a 25 de abril de 1975, a esmagadora maioria da população acorreu às urnas para votar e, pela primeira vez, houve um enorme número de mulheres que votaram.

Outras das heranças da Revolução dos Cravos, são o Serviço Nacional de Saúde, a Segurança Social, direito ao trabalho e à reforma, ao salário mínimo garantido, a liberdade de reunião e de associação, a liberdade sindical e a igualdade entre homens e mulheres. Estes e muitos outros direitos e garantias estão consagrados na Constituição promulgada a 2 de abril de 1976.

Foram 50 anos de Democracia e nem tudo tem corrido bem, todos estamos cientes disso, o próximo artigo será dedicado aos “Espinhos de Abril”.

Publicado no jornal a 1 de maio. Outras opiniões: Gualter Sarmento, Abel Maia, João Paulo Meneses e Carlos Real. Na atual edição em papel: R. Cunha Reis, Elizabeth Real de Oliveira, Pedro Pereira da Silva, Miguel Torres, João Paulo Meneses e Carolina Vilano.

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