Opinião de Miguel Torres
Os ingleses, de um modo geral, vivem centrados no mundo anglófono. Seja na rádio, televisão ou cinema, tudo acontece na língua deles. É raro o sucesso de um artista que não tenha o inglês como língua nativa, mesmo cantando em inglês. Nenhum dos meus amigos conhece os The Gift, o David Fonseca ou o Paulo Gonzo.
A única exceção é a Eurovisão, e foi aí que, há 50 anos, surgiu um grupo sueco cujo nome é uma sigla com as iniciais dos seus membros. Não sei se tudo se deveu ao amor dos ingleses pelas siglas, mas o que é certo é que os ABBA são a grande exceção à regra de ignorar quem não nasceu a falar inglês.
Apesar de os ABBA terem acabado há mais de 40 anos, estão sempre presentes na vida dos ingleses, seja na rádio, seja com o seu musical Mamma Mia, seja com o concerto ABBA Voyage que ocorre diariamente na ABBA Arena, construída de propósito para este espetáculo de hologramas que se chamam ABBAtares. Mas tudo poderia ser diferente. É que há 50 anos também ocorreu o 25 de Abril, que começou com uma senha que também era uma música da Eurovisão do mesmo ano, cantada por Paulo de Carvalho. Uma música que ficou em último lugar com apenas 3 pontos. Mas por que é que uma canção histórica ficou tão mal classificada? Quando a Ucrânia foi invadida pela Rússia ganhou logo. “E depois do adeus” também deveria ter ganho a Waterloo facilmente.
A questão é que nesse ano o evento ocorreu no dia 6 de Abril, 19 dias antes da revolução e não em Maio, como agora. Se assim fosse, por esta altura ninguém conhecia os ABBA e Paulo de Carvalho era uma vedeta mundial. Iríamos ao West End ver o musical “Meninos do Huambo” e teríamos um Carvatar a cantar todos os dias no espetáculo Paulo Voyage na Arena do Carvalho. Parece sempre que o destino não quer nada com o nosso país. E é pena.
Publicado no jornal a 15 de maio. Outras opiniões: R. Cunha Reis, Elizabeth Real de Oliveira, Pedro Pereira da Silva, João Paulo Meneses e Carolina Vilano. Na atual edição em papel:
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