Opinião de Miguel Torres

Pela primeira vez, um voto meu no estrangeiro vai contar para alguma coisa. Contar é diferente de ser contado, já que quando o meu voto é retirado de um envelope que está dentro de outro envelope, os governos já estão formados e as legislaturas vão quase a metade.

Mas este ano, não. Os resultados dos círculos da emigração podem mudar o partido com mais deputados eleitos ou mesmo eleger o primeiro deputado do ADN, a força política que ganhou estas eleições mesmo sem eleger ninguém, até agora. Muitos dizem que foi por engano, mas eu acredito que existam mais de cem mil portugueses a negar a Covid, as alterações climáticas e a política sem comédia. Eu próprio até pensei votar neles só porque a ARTV iria passar a chamar-se “Assembleia-te e Ri TV”.

Se se confirmar que foi uma confusão causada por dois partidos terem siglas semelhantes, então podemos concluir que quase todas as eleições foram ganhas pelo partido errado, já que quando as pessoas queriam votar no PS votaram no PSD e vice versa.

Agora compreendo melhor a razão por que Pedro Santana Lopes dizia sempre PPD/PSD, só assim poderia captar o voto social-democrata.

Fica então a questão se cem mil portugueses não têm inteligência suficiente para descobrir a diferença entre duas siglas ou se cem mil portugueses não têm inteligência suficiente para saber que fraude climática, teorias de conspiração e ataques à vacinação são ideias chalupas. Em ambos os casos, posso dizer que não fiquei impressionado particularmente com as capacidades cognitivas de um grande número de eleitores.

Pedro Nuno Santos disse que não acredita que um milhão de portugueses são xenófobos e também poderia dizer que não acredita que cem mil são chalupas. Eu também não acredito, mas ao contrário dele, eu acho que, em ambos os casos, esses números pecam por defeito, e não por excesso.

Publicado no jornal a 20 de março. Outras opiniões: R. Cunha Reis, João Paulo Meneses, Carlos Real, Elizabeth Real de Oliveira e Pedro Pereira da Silva. Na atual edição em papel: Abel Maia, Gualter Sarmento, Adelina Piloto, João Paulo Meneses e Carolina Vilano.

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